Crítica | O Incrível Hulk (The Incredible Hulk) [2008]

Nota do Filme:

Após o estrondoso sucesso de Homem de Ferro [2008], a Marvel decidiu dar continuidade ao seu planejamento e arquitetar aquele que seria um dos projetos mais ambiciosos e arriscados da história do Cinema. Com o longa protagonizado por Robert Downey Jr., o estúdio definiu o início da primeira fase de seu universo expandido, o Marvel Cinematic Universe (MCU), que contou com outros cinco representantes espalhados por um espaço de quatro anos. O seu sucessor, lançado apenas dois meses depois, ainda em 2008, foi o longa O Incrível Hulk, dirigido por Louis Leterrier, conhecido por seus trabalhos em filmes de ação, como: Carga Explosiva (The Transporter) [2002], Cão de Briga (Unleashed) [2005] e Carga Explosiva 2 (Transporter 2) [2005].

Porém, a segunda tentativa não atingiu o sucesso esperado. Com um certo fracasso de críticas e uma arrecadação que não chegou nem na metade do conquistado mundo afora com o Homem de Ferro, o filme solo do monstro verde acabou caindo no esquecimento, tanto para o público geral, quanto para o próprio estúdio. Prova disso foi a decisão em mudar o ator que viveria o personagem nas demais continuações do MCU. O pouco expressivo Edward Norton foi rapidamente substituído pelo carismático Mark Ruffalo ainda na primeira fase, apenas quatro anos depois da estreia do primeiro filme do herói.

O CGI do filme é bastante inferior ao visto no resto do MCU

O cientista Bruce Banner (Edward Norton) encontrou na cidade do Rio de Janeiro o refúgio ideal para treinar artes marciais e o controle comportamental necessário enquanto busca uma cura para a sua condição. Após um experimento malsucedido realizado por sua colega e grande paixão, a também cientista Betty Ross (Liv Tyler), o americano desenvolveu a habilidade de se transformar em um monstro gigantesco alimentado por sua raiva e destempero. Enquanto isso, a quilômetros de distância dali, o exército de seu país natal comandado por seu antigo sogro (William Hurt) começou a enxergar nele uma possibilidade muito mais vantajosa para atingir os seus interesses: usar o seu poder como uma arma capaz de vencer qualquer tipo de batalha.  

Os primeiros minutos do filme já demonstram a que veio. Um videoclipe deveras constrangedor resume, de forma quase desleixada, toda a origem do personagem principal – desde a experiência que o transformou, até as perseguições que culminaram em seu exílio. E claro, para deixar tudo mais cafona, o compilado de cenas foi reproduzido sob um fundo verde que trouxe o nome dos atores regido por uma música de aventura quase motivacional. Chega a ser bizarro pensar que toda essa introdução foi jogada às pressas para que a história pudesse evoluir para o ponto inicial de Banner: as aulas ministradas por seu mestre de artes marciais na favela da Rocinha (o porquê da escolha desse lugar, nós nunca saberemos).

Liv Tyler interpreta a cientista Betty Ross, interesse romântico do herói

Após a intro, o festival de bizarrices logo tem continuidade. Uma parte considerável dos atores que vivem na comunidade junto com Banner, falam um português com sotaque espanhol – o que denota, com uma certa clareza, que a produção do filme não se deu nem ao trabalho de escalar somente brasileiros para contracenar com o ator hollywoodiano nessa parte da narrativa. Além disso, logo somos apresentados às deficiências nos efeitos visuais do longa, que ficaram muito mais datados do que deveriam após apenas 11 anos de sua estreia. Para disfarçar tais falhas, a maior parte das cenas de ação do primeiro ato são escuras, o que deixa tudo muito confuso – principalmente os trechos que envolvem a transformação do herói.

Para completar, os personagens secundários são totalmente unidimensionais e caricatos. A cientista vivida por Liv Tyler parece existir apenas para ajudar o protagonista e fornecer todo o apoio necessário para as suas situações de perda de controle. Já o vilão vivido por Tim Roth, um soldado que serve de cobaia em determinado momento da história, é estereotipado e representado para parecer o mais cruel e implacável possível – para tornar tudo ainda mais didático, o roteiro mostra, de maneira clara e insistente, o personagem maltratando os animais que ousam cruzar o seu caminho. Por fim, o general vivido por Willian Hurt ainda apresenta resquícios de um certo instinto paternal, mas acaba caindo no ponto comum de antagonista que faz de tudo para conseguir o seu objetivo megalomaníaco.

Edward Norton e Tim Roth são os grande antagonistas do filme

Um dos únicos pontos positivos dos longos 114 minutos da experiência são as cenas de perseguição e a coreografia das lutas, que ainda conseguem trazer movimentos e angulações interessantes provenientes da experiência adquirida pelo diretor após comandar alguns filmes do gênero. Mas isso não é o suficiente. Nem o easter egg da aparição de Lou Ferrigno, o Hulk original, consegue apagar o ritmo arrastado, a falta de química e de carisma do elenco, a trilha sonora que permeia 100% do filme com temas genéricos e o roteiro recheado de furos e decisões inexplicáveis e sem apelo. Tudo isso faz com que O Incrível Hulk figure, com uma certa vantagem, no top 3 de piores filmes do MCU, e ganhe disparado o prêmio de filme mais esquecível da duradoura franquia.