Jornalistas não são assessores de imprensa, não são propagandistas e sobretudo não são mediadores entre dois lados de posições distintas. Se uma pessoa A afirma que está chovendo e uma pessoa B afirma que não está chovendo, o papel de um jornalista não é cruzar os braços e dizer “bom, ambas têm pontos de vista válidos, agora cabe a você espectador/ouvinte/leitor decidir quem está certo”. O papel de um jornalista é abrir a janela, verificar se está chovendo ou não, e te dizer quem estava falando a verdade (sim, ela existe). É um exemplo simples, mas que resume bem a importância do Jornalismo. E não se engane; os poderosos sabem muito bem disso, não à toa uma das primeiras medidas que governantes com pretensões autoritárias tomam quando sobem ao poder é tentar asfixiar e intimidar a atuação de uma imprensa livre e investigativa, pois têm noção de como sua atividade é essencial para o bom funcionamento de uma sociedade.
Em um momento em que jornalistas são ameaçados e sua profissão é menosprezada, é importante lembrar filmes que ressaltam a importância de seu trabalho em qualquer sociedade que se pretenda democrática.
Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck) [2005]
O segundo longa dirigido por George Clooney retrata os eventos ocorridos na década de 1950, quando o âncora da CBS Edward R. Murrow (David Strathairn) virou alvo do repugnante senador Joseph McCarthy e sua caça às bruxas (a criação de um comitê para investigar “atividades antiamericanas”, uma desculpa para perseguir opositores). Apesar das ofensivas sofridas, Murrow e sua equipe não retrocederam, firmes em suas convicções e princípios de informar o público.
Vlado – 30 anos depois (2005)
Vladimir Herzog era um jornalista que foi assassinado pela ditadura militar brasileira. Aos 38 anos, no dia 25 de outubro de 1975, foi torturado e morto nas instalações do DOI/CODI, após ser interrogado sobre ligações com o Partido Comunista Brasileiro. As autoridades forjaram seu atestado de óbito, dizendo que “Vlado”, como era conhecido, havia se suicidado (a mentira só foi oficialmente superada em 2012, quando a Justiça alterou o registro). O documentário, lançado nos 30 anos de seu assassinato, conta um pouco de sua trajetória e traz depoimentos dos que conviveram com ele.
O Escândalo (Bombshell) [2019]
O Escândalo não é propriamente um filme sobre jornalismo, mas sobre o ambiente tóxico e a cultura de assédio construída na Fox News, conglomerado de mídia idealizado pelo magnata Rupert Murdoch (Malcolm McDowell) e comandado durante décadas por Roger Ailes (John Lithgow). Ailes, usando a emissora como uma máquina de propaganda (e fomentadora de ódio), foi uma figura crucial na História norte-americana a partir da segunda metade do século XX, influenciando mesmo eleições presidenciais. O reinado de Ailes parecia vitalício, até que as apresentadoras Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e Megyn Kelly (Charlize Theron, em um trabalho incrível de maquiagem) resolveram denunciar sua conduta, culminando em seu afastamento.
Christine (2016)
Em 15 de julho de 1974, a jornalista Christine Chubbuck cometeu suicídio ao vivo enquanto apresentava um noticiário local na cidade de Saratosa, Flórida. Enfrentando depressão e frustrações profissionais, Chubbuck atirou contra a própria cabeça após mencionar a política editorial da emissora para a qual trabalhava, que exibia matérias violentas em busca de maiores índices de audiência. Rebecca Hall, em uma excelente atuação, interpreta a âncora neste longa que recupera respeitosamente sua carreira.
Obs: Kate Plays Christine, outro filme de 2016, também aborda o caso Chubbuck, dessa vez em tom semidocumental.
Zodíaco (Zodiac) [2007]
Poucos cineastas constroem suspenses de maneira tão eficiente como David Fincher (Seven, Garota Exemplar, Vidas em Jogo, Millennium) e em Zodíaco, filme sobre o famoso serial killer californiano, vemos o diretor em plena forma. A partir do momento em que o assassino começa a enviar cartas para os jornais do estado, o repórter policial Paul Avery (Robert Downey Jr.) passa a desempenhar um papel importante na investigação, ao lado do detetive David Toschi (Mark Ruffalo) e do cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal).
Leia também a primeira parte.
Historiador que acredita que a vida fica mais fácil quando vamos ao cinema.
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