Helena Solberg. Ana Carolina. Adélia Sampaio. Suzana Amaral. Carla Camurati. Esses são apenas alguns nomes femininos que moldaram o cinema nacional. Embora a história ainda insista em preterir os trabalhos fundamentais que essas mulheres apresentaram ao mundo, elas foram responsáveis por pavimentar o caminho para os nomes contemporâneos. Hoje, cineastas como Laís Bodanzky, Petra Costa, Anna Muylaert, entre tantas outras, têm a oportunidade de perdurar o legado feminino na sétima arte, de modo que fazem parte ainda da preterida – mas significativa – porcentagem de 22% de títulos dirigidos por mulheres. A fim de celebrar esse progresso paulatino, que mostra que a presença delas vai muito além de uma representatividade, sendo vista como um verdadeiro ato político, o Cinematologia separou 8 filmes brasileiros para serem vistos no streaming – âmbito que fomentou o acesso e interesse a esses trabalhos que geralmente são consumidos somente por um nicho específico, como o público do cinema independente.
Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida
Animal Cordial é uma boa pedida para quem quer conhecer o suspense e terror brasileiro contemporâneo e não sabe por onde começar. Dirigido por Gabriela Amaral, o filme acompanha Inácio, dono de um restaurante de classe média que está sempre em conflito com seus funcionários por conta da sua postura austera. Quando o restaurante é assaltado, o dono e uma garçonete precisam lidar com a situação sem assustar os clientes que estão presentes. O longa está disponível no Netflix e Globoplay.
É proibido fumar, de Anna Muylaerte
Um clássico na filmografia de Anna Muylaerte, É Proibido Fumar conta o dilema de Baby, uma professora de violão que vive sozinha em um apartamento e, entre os conflitos com as irmãs, acaba se apaixonando pelo vizinho Max. O que ela não esperava é que teria que mudar o hábito de fumar para manter o romance vivo, tendo que lidar com as consequências da abstinência do vício, além do fato de que Max ainda tem sentimentos pela ex-mulher. O longa está disponível no Amazon Prime.
Elena, de Petra Costa
A partir de cartas, diários e reportagens, a diretora Petra Costa investiga neste documentário íntimo a trajetória da irmã que sonhava em ser atriz e se mudou para Nova Iorque em busca do sonho, deixando para trás a família e o passado vivido na época da ditadura. Em busca da irmã, Petra, que também se tornou atriz, começa a descobrir novas coisas sobre ela e sobre si mesma, de modo que terá que lidar com sentimentos relacionados à relação distanciada entre as duas. O documentário está disponível na Netflix.
Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky
Em uma sucessão de catástrofes do cotidiano, o filme mostra Rosa (Maria Ribeiro), uma mulher na beira dos 40 anos, que vive um momento de reflexão sobre a vida: precisa aprender a ser mãe ao mesmo tempo que tenta manter a sua independência emocional e profissional em um casamento conflituoso. Na direção crua de Bodanzky, o embate de gerações e pessoais são ainda mais potencializados pela relação entre Rosa e sua mãe, Clarice (Clarisse Abujmra), com quem não consegue entrar em um acordo. O longa está disponível na Netflix.
Praça Paris, de Lúcia Murat
Como um debate sobre desigualdade e racismo, Praça Paris elucida reflexões a partir da rotina de Camila (Joana de Verona), uma terapeuta portuguesa que trabalha na UERJ e lida diariamente com questões sociais que aflige as diferentes classes. Uma de suas pacientes, Gloria (Grace Passo), compartilha com ela a realidade violenta na qual vive e os traumas que carrega consigo, entre eles o estupro sofrido pelo próprio pai quando criança e o fato do irmão estar presa. Assustada com os relatos, Camila precisa lidar com o dilema de continuar o atendimento ou estender a mão para a paciente. O longa está disponível no Telecine Play.
Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
Em uma abordagem híbrida de docuficção, Eliane Caffé empodera as vozes de refugiados recém-chegados ao Brasil que interpretam a si mesmo, ao lado de atores como Suely Franco, e vivem em um velho edifício abandonado no centro de São Paulo. Na convivência com um grupo de sem-teto, o grupo precisa lidar com os dramas pessoais e com as diferenças entre cada um, além de sofrerem diariamente com a angústia do despejo e das medidas públicas que não oferecem nenhum tipo de alento. O longa está disponível no Mubi.
Hoje, de Tata Amaral
Tata Amaral descortina de forma teatral e antirrealista os efeitos da ditadura na vida daqueles que perderam seus entes queridos para o regime autoritário a partir de Vera (Denise Fraga), uma mulher solteira que lida diariamente com a dor do desaparecimento do seu marido. Ao receber uma compensação do governo brasileiro pela perda, ela decide comprar um apartamento em uma tentativa de reiniciar sua vida. No entanto, ao se deparar com uma visita inesperada, o recomeço vai ser marcado por memórias e sentimentos que ela não estava pronta para lidar. O longa está disponível no Youtube Play.
As Boas Maneiras, de Juliana Rojas
Representante do gênero fantasia e horror no cinema brasileiro, As Boas Maneiras é uma fábula social que critica os males sociopolíticos, como racismo, classismo, entre outros, a partir de relações e personagens chaves: Clara (Isabél Zuua), uma enfermeira e babá negra que mora na periferia de São Paulo, e Ana (Marjorie Estiano), uma mulher da classe média que contrata o serviço de Clara ao descobrir que está grávida de um filho concebido fora do noivado. Durante a gravidez, o clima de tensão se faz presente na relação entre as duas, que acabam se envolvendo romanticamente, por conta dos comportamentos dúbios que Ana apresenta sempre nas noites de lua cheia. O longa está disponível no Telecine Play.
Jornalista Cultural, Crítica de Cinema e Produtora Executiva.