Crítica | Em Pedaços (Aus dem Nichts) [2017]

Nota do Filme:

Em Pedaços acompanha a vida de Katja Sekerci (Diane Kruger), esposa de Nuri Sekerci (Numan Acar), imigrante turco de passado problemático. Juntos, criam o filho Rocco Sekerci (Rafael Santana). Todavia, um atentado cometido por um casal neonazista, do qual  Nuri era o alvo, faz com que Katja perca toda a família e inicie sua jornada por justiça.

 

 

Se não pela sinopse, a execução deixa clara certas semelhanças com outro grande lançamento do ano, qual seja, Três Anúncios Para um Crime. Em ambos temos fortes protagonistas, mães em luto cujo ideal de justiça se maculou, tornando-se busca por vingança.

Não há como iniciar qualquer análise acerca do filme sem antes mencionar Diane Kruger, atriz principal da obra. Fantástica no papel, sua performance carrega toda a história. É impossível não sentir compaixão pela personagem, sua dor é quase palpável, sobretudo quando recebe a triste notícia da morte de sua família.

 

 

O longa é dividido em três atos: Família, Justiça e O Mar. Há pequenas – mas perceptíveis – diferenças no modo como são filmadas, cada qual à sua maneira para tornar claro o foco do arco. Decisão interessante do diretor Faith Akin, que conseguiu tornar cada ato único.

No primeiro temos a construção de toda a base do filme. Aqui, nos é apresentado não apenas a vida pré-atentado, como também a relação de Katja com o resto da família. Pouco é aprofundado neste tópico, mas é nítida a sua difícil relação não apenas com os pais de seu marido como também com a própria mãe. Seu porto seguro, sua irmã grávida, oferece apoio como pode, dadas as circunstâncias.

Com o foco do segundo ato na parte judicial, válido ressaltar outra atuação digna de elogios. Denis Moschitto interpreta Danilo Fava, advogado e amigo de Nuri. Após o atentado, se torna advogado de Katja e atua no processo contra os suspeitos. Fornece, também, apoio emocional à protagonista, de modo que os dois criam uma bela amizade. Nesse sentido, se faz necessário elogiar, especialmente, o formato no qual o segundo ato foi filmado, com tomadas perfeitamente simétricas de modo a ressaltar o perfeccionismo Corte.

 

 

Sobre o terceiro ato, pouco será abordado por motivos óbvios. Mas há que se elogiar o trabalho do diretor, que conseguiu criar possibilidades de finais distintas, porém, cada uma qualidades próprias. Assim, por mais que se queira que o encerramento se dê de certo modo, o desfecho é, inevitavelmente, satisfatório.

Acerca da história, essa aborda problemas atuais no continente europeu. A ascensão de simpatizantes do ideal nazista sempre foi um temor da Alemanha e, hoje, com a crise de refugiados, vem se concretizando, tornando-se uma ameaça real, de modo que o timing é ideal.

Há problemas na execução, como em qualquer obra cinematográfica. Por vezes são criadas situações de impacto sem, porém, catarse satisfatória. Ainda, em uma cena específica do segundo ato, o longa perde a sobriedade e apela para um momento emocionante considerado clichê. Devido à natureza da filme, este pequeno momento soa desconexo. De qualquer forma, são poucos problemas que, analisados em conjunto com a obra, pouco influenciam no veredito final.

Não à toa foi o escolhido pela Alemanha para representar o país na disputa por uma vaga no Oscar de 2017 e, posteriormente, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ainda, conquistou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro de 2017 e Diane Kruger conquistou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes de 2017.

Ao final, temos uma história de tema relevante, construído de maneira competente. A divisão de arcos faz com que a tensão se acumule de maneira competente, crescendo exponencialmente a cada ato. A direção competente Faith Akin, acompanhada da fantástica performance de Diane Kruger faz com que essa seja uma experiência digna de cinema.