Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes (Zombieland: Double Tap) [2019]

Nota do filme:

“Vai com tudo ou vai pra casa.” Talahassee

Anos depois de se unirem para atravessar o início da epidemia zumbi nos Estados Unidos, Columbus (Jesse Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) seguem convivendo e formando uma família para lá de disfuncional. Columbus e Wichita continuam como casal, conforme apresentado no primeiro filme (Zumbilândia, 2009) e Tallahasse torna-se uma espécie de pai para Little Rock. Eles acabam por se instalar na Casa Branca, onde se sentem protegidos e confortáveis.

O pontapé inicial da história ocorre quando Columbus pede Wichita em casamento e, em consequência, ela se apavora e decide fugir com Little Rock, a qual, por sua vez, sente a necessidade de encontrar outros jovens e dar um tempo nesse intenso “convívio familiar”. A busca pela independência e a vontade de deixar o “ninho” são sintomas comuns à maioria dos jovens, contudo, é estranho esperar um comportamento usual de uma pós-adolescente que vive desde os 11 anos em um mundo pós-apocalíptico.

As atuações estão ótimas, os três protagonistas conseguem retomar de forma convincente os seus papéis anteriores, com destaque para Woody Harrelson, que manteve o vigor de antes. A exceção fica por conta de Abigail Breslin, cuja performance teve que ser adaptada para incorporar uma jovem apática e cheia de vontade em virtude de sua nova personalidade ser a mola propulsora do enredo. Little Rock transformou-se em uma típica adolescente sem empatia, tediosa, irresponsável e indiferente. Sua personagem perdeu todo o carisma adquirida em Zumbilândia.

A história alavanca com a jornada do grupo em busca de Little Rock, que foge de Wichita com Berkeley (Avan Jogia), um jovem hippie pacifista que elas encontraram no caminho. Com mais piadas e menos sangue, a sequência acrescenta algumas figuras novas, não economizando nos estereótipos: loira bonita e burra, hippie meio malandro e maconheiro e mulher fatal, linda e corajosa. A adição de Zoey Deutch (Madison) foi uma bela aposta, enriquecendo o roteiro ao destoar dos outros personagens e, ao mesmo tempo, apresentar uma ótima química com eles. Rosario Dawson (Nevada) também foi uma escolha acertada para a composição do elenco.

A maior parte das piadas funciona e diverte, outra parte parece forçada ou se arrasta demais, perdendo o efeito almejado, como no caso da paródia com a adição de dois personagens – Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch) – semelhantes aos protagonistas Tallahassee e Columbus. A cena tem seu valor, mas, talvez, funcionasse melhor se fosse algo mais rápido ou sem muita ênfase, pois o fato se estende demais e vai soando cada vez menos natural e sem graça.

As referências ao primeiro longa são vastas e muito bem vindas, algo que sempre agrada aos fãs de franquias. Contudo, o espectador que assiste à Zumbilândia: Atire Duas Vezes sem nunca ter visto a obra que o originou não se perde e consegue acompanhar toda a trama sem dificuldade, uma vez que o enredo de ambos é algo muito solto, não se demora em explicações sobre os fatos e tampouco conta a história de vida de cada personagem.

Do primeiro filme se roubam alguns detalhes que deixam este mais previsível: a fuga das meninas (Wichita e Little Rock), a fixação de Tallahassee, que aqui se dá por Elvis, tomando o lugar dos bolinhos recheados da película anterior, o romance mal resolvido entre Wichita e Columbus, a ida a um lugar icônico, que neste é Graceland ao invés da Hollywood do outro, são apenas alguns exemplos de que o longa reutilizou a fórmula do primeiro para tentar acertar novamente no segundo. O roteiro continua dinâmico e a comicidade das cenas ajuda na fluidez. No que se refere à trilha sonora, as músicas foram adequadamente selecionadas e empolgam muito.

O fato de, em Zumbilândia, ter iniciado há pouco a epidemia e todos se encontrarem perdidos e solitários, sem qualquer explicação para os recentes acontecimentos, justifica a união do quarteto e a busca por esperança. Aquele, além de conter ação e comédia, desperta um pouco de emoção no público, enquanto este aposta na irreverência e entretém com algumas cenas de ação, apresentando novos zumbis, porém, perde um pouco do encanto do original.

Zumbilândia: Atire Duas Vezes se trata de uma sequência permeada de referências à cultura pop e ao seu antecessor, com muitas piadas, personagens caricatos, roteiro fluido, algumas cenas gore para marcar a temática zumbi, boas atuações e um final piegas e previsível, que lembra a pegada mais inocente vista no cinema da década de 80. O longa retoma os ingredientes do anterior e investe na irreverência, tornando-se mais afetado que o original, mas menos encantador.

Zumbilândia: Atire Duas Vezes estreia em 24 de outubro nos cinemas (possui cena pós-crédito).

Direção: Ruben Fleischer | Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick, Dave Callaham | Ano: 2019 | Duração: 99 minutos | Elenco: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin, Rosario Dawson, Zoey Deutch, Luke Wilson, Thomas Middleditch, Avan Jogia, Bill Murray, Dan Aykroyd.