Nota do filme:
“Vai com tudo ou vai pra casa.” Talahassee
Anos depois de se unirem para atravessar o início da epidemia zumbi nos Estados Unidos, Columbus (Jesse Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) seguem convivendo e formando uma família para lá de disfuncional. Columbus e Wichita continuam como casal, conforme apresentado no primeiro filme (Zumbilândia, 2009) e Tallahasse torna-se uma espécie de pai para Little Rock. Eles acabam por se instalar na Casa Branca, onde se sentem protegidos e confortáveis.
O pontapé inicial da história ocorre quando Columbus pede Wichita em casamento e, em consequência, ela se apavora e decide fugir com Little Rock, a qual, por sua vez, sente a necessidade de encontrar outros jovens e dar um tempo nesse intenso “convívio familiar”. A busca pela independência e a vontade de deixar o “ninho” são sintomas comuns à maioria dos jovens, contudo, é estranho esperar um comportamento usual de uma pós-adolescente que vive desde os 11 anos em um mundo pós-apocalíptico.
As atuações estão ótimas, os três protagonistas conseguem retomar de forma convincente os seus papéis anteriores, com destaque para Woody Harrelson, que manteve o vigor de antes. A exceção fica por conta de Abigail Breslin, cuja performance teve que ser adaptada para incorporar uma jovem apática e cheia de vontade em virtude de sua nova personalidade ser a mola propulsora do enredo. Little Rock transformou-se em uma típica adolescente sem empatia, tediosa, irresponsável e indiferente. Sua personagem perdeu todo o carisma adquirida em Zumbilândia.
A história alavanca com a jornada do grupo em busca de Little Rock, que foge de Wichita com Berkeley (Avan Jogia), um jovem hippie pacifista que elas encontraram no caminho. Com mais piadas e menos sangue, a sequência acrescenta algumas figuras novas, não economizando nos estereótipos: loira bonita e burra, hippie meio malandro e maconheiro e mulher fatal, linda e corajosa. A adição de Zoey Deutch (Madison) foi uma bela aposta, enriquecendo o roteiro ao destoar dos outros personagens e, ao mesmo tempo, apresentar uma ótima química com eles. Rosario Dawson (Nevada) também foi uma escolha acertada para a composição do elenco.
A maior parte das piadas funciona e diverte, outra parte parece forçada ou se arrasta demais, perdendo o efeito almejado, como no caso da paródia com a adição de dois personagens – Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch) – semelhantes aos protagonistas Tallahassee e Columbus. A cena tem seu valor, mas, talvez, funcionasse melhor se fosse algo mais rápido ou sem muita ênfase, pois o fato se estende demais e vai soando cada vez menos natural e sem graça.
As referências ao primeiro longa são vastas e muito bem vindas, algo que sempre agrada aos fãs de franquias. Contudo, o espectador que assiste à Zumbilândia: Atire Duas Vezes sem nunca ter visto a obra que o originou não se perde e consegue acompanhar toda a trama sem dificuldade, uma vez que o enredo de ambos é algo muito solto, não se demora em explicações sobre os fatos e tampouco conta a história de vida de cada personagem.
Do primeiro filme se roubam alguns detalhes que deixam este mais previsível: a fuga das meninas (Wichita e Little Rock), a fixação de Tallahassee, que aqui se dá por Elvis, tomando o lugar dos bolinhos recheados da película anterior, o romance mal resolvido entre Wichita e Columbus, a ida a um lugar icônico, que neste é Graceland ao invés da Hollywood do outro, são apenas alguns exemplos de que o longa reutilizou a fórmula do primeiro para tentar acertar novamente no segundo. O roteiro continua dinâmico e a comicidade das cenas ajuda na fluidez. No que se refere à trilha sonora, as músicas foram adequadamente selecionadas e empolgam muito.
O fato de, em Zumbilândia, ter iniciado há pouco a epidemia e todos se encontrarem perdidos e solitários, sem qualquer explicação para os recentes acontecimentos, justifica a união do quarteto e a busca por esperança. Aquele, além de conter ação e comédia, desperta um pouco de emoção no público, enquanto este aposta na irreverência e entretém com algumas cenas de ação, apresentando novos zumbis, porém, perde um pouco do encanto do original.
Zumbilândia: Atire Duas Vezes se trata de uma sequência permeada de referências à cultura pop e ao seu antecessor, com muitas piadas, personagens caricatos, roteiro fluido, algumas cenas gore para marcar a temática zumbi, boas atuações e um final piegas e previsível, que lembra a pegada mais inocente vista no cinema da década de 80. O longa retoma os ingredientes do anterior e investe na irreverência, tornando-se mais afetado que o original, mas menos encantador.
Zumbilândia: Atire Duas Vezes estreia em 24 de outubro nos cinemas (possui cena pós-crédito).
Direção: Ruben Fleischer | Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick, Dave Callaham | Ano: 2019 | Duração: 99 minutos | Elenco: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin, Rosario Dawson, Zoey Deutch, Luke Wilson, Thomas Middleditch, Avan Jogia, Bill Murray, Dan Aykroyd.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).