Crítica | Z: A Cidade Perdida (The Lost City of Z) [2016]

Nota do Filme:

Como um fã dos clássicos de aventura de exploração, me empolguei bastante com o trailer que aparentemente fundia no melhor estilo A Múmia a representação de Tom Holland e Charlie Hunnam. Você sabe o que esperar e imagina que o filme será mais ou menos o que é esperado de um roteiro bem previsível para uma aventura. O fato de se tratar de uma adaptação contou muito para uma ignorância saudável minha ao assistir. David Grann desenvolve na obra literária algo grandioso do real, embora visualmente limitado. James Gray reinventa o conceito de aventura enquanto trabalha a sua própria estética sem medo algum. E para quem assiste até o fim, até que funcionou.

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Partindo da análise independente do filme com a obra, existe no roteiro algo ainda muito engessado ao clichê e a representação padrão de personagens igualmente repetitivos. A direção de James Gray não se importou em desenvolver o núcleo dos Fawcett com mais profundidade do que a necessária para fomentar um mínimo drama que desce uma ladeira nos minutos conclusivos da imensa volta que o roteiro dá a cada capítulo. E vendo por esse ponto, é muito clara aqui a montagem que pode parecer até confusa ou desorganizada, mas que não se distancia muito do formato literário. Para quem não se identifica com a obra já na sala de cinema, dormir pode ser o fim. O filme não espera e não poupa tempo em resgatar lembranças e eventos passados com precisão. Ele progride faminto por ação, mistério e aventura, mas acaba não entregando menos do que o brochante de cada um dos gêneros.

Há uma óbvia atenção especial ao personagem de Charlie Hunnam. A atuação não engana ou conquista. Apesar do foco na figura paternal, obsessiva e resiliente, o ator deixa de entregar um lado mais humano em cenas que não as de finalização. O arco de conclusão desse filme é de uma particularidade a ser analisada separadamente do contexto maçante de idas e voltas ao território amazônico. Nas viagens primárias onde o reconhecimento cultural e geográfico possui um valor maior a ser reportado para a Academia Real de Geografia, a ambientação muitas vezes errada quanto a distinção indígena e social empilha gafes e mais gafes. Um ponto positivo (que não deveria ser) é o de essa etapa de descobrimento dentro da civilização local não consome tanto tempo do filme, mas tampouco faz com que use o que economiza com isso de maneira correta.

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A qualidade preciosa do filme só vem com o crescimento dos filhos de Fawcett. A partir deste momento a trama escala em uma aproximação com a aventura em sua maior motivação: o sonho. A entrada de Tom Holland não é incrível, mas traz em silêncio uma qualidade não testemunhada no resto da obra. A relação dos dois é bem verídica, mas apressada. Não houve um tempo para um desenvolvimento bem feito das duas mentes tão diferentes (como apresentado no primeiro diálogo de Jack Fawcett com o pai, Percy Fawcett. Em pouco menos de trinta minutos deste ponto em diante, James Gray entrega ao público uma preocupação única com os personagens. Tudo, absolutamente tudo a partir daquele momento projetou na minha cabeça um final épico. Ele não aconteceu, mas o que veio foi tão surreal quanto.

A trama não aborda um El Dorado magnífico ou uma cidade alienígena abstrata demais para as mentes humanas. Tudo o que existe é uma tentativa de descobrir o que ainda não foi descoberto, mesmo que a única contestação possível para isso seja a de que nada o homem civilizado sabe sobre aquele mundo. A Amazônia é tão profunda em mata densa quanto o oceano é em sua escuridão sem chão. Embora seja compreensível que muitos não tenham gostado do final, ele sem dúvidas foi o melhor possível. Qualquer outro final que quebrasse a construção do que realmente se tratava a cidade perdida na cabeça do protagonista seria careta e decepcionante. Em uma determinada altura o público quer vê-la, entender o que deveria ser entendido, mas o diretor não entrega isso. Por outro lado, é nos dado em mãos nada mais do que dúvida e conformidade com a nossa ignorância disfarçada de modernidade. O final não chega a ser poético, mas é encantador.

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O filme é longo, mas falar de seu inchaço com algumas cenas mais desprezíveis para a sensação que a obra tenta passar ao seu final (que acredito que seja essa mesmo) é inevitável. É um filme para quem tem algum tempo sobrando e quer refrescar a cabeça com uma boa aventura de época. O filme é longe de ser educativo, bem ambientado ou realista, mas ele tenta ser um pouco de tudo em sua limitação, o que o deixa mais digerível. O final é sem dúvidas recompensador, ao menos para mim. Foi como subir uma desgastante montanha que o filme é, para só em seu final admirar a vista. Cada um a vê de uma forma, mas nenhuma deixa de ser inspiradora.