Crítica | WiFi Ralph – Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet) [2018]

Nota do Filme:

WiFi Ralph – Quebrando a Internet se passa seis anos após os eventos de seu antecessor e acompanha Ralph (John C. Reilly) e Vanellope (Sarah Silverman) em uma jornada pela internet após um acidente envolvendo o console de “Corrida Doce”. Com a ajuda de Shank (Gal Gadot) e Yesss (Taraji P. Henson), a dupla deve se aventurar pelo desconhecido em busca de uma peça reserva.

Detona Ralph foi, não apenas uma grata surpresa de 2012, mas uma das melhores animações daquele ano tendo sido, inclusive, nomeado ao Oscar de Melhor Animação em 2013 [1]. Com temáticas interessantes, trabalhou, com competência, a improvável amizade entre os protagonistas, ao mesmo tempo em que demonstrava forte potencial para uma nova – e interessante – franquia.

Felizmente, WiFi Ralph – Quebrando a Internet não decepciona e aproveita o trabalho de seu antecessor para expandir o próprio universo, de maneira bem humorada e criativa. Simultaneamente, trabalha novos aspectos, introduzidos natural e organicamente, resultando em uma sequência competente, algo não tão comum na indústria cinematográfica.

Nesse sentido, os diretores Phil Johnston (também responsável pelo roteiro) e Rich Moore (responsável pela direção de Detona Ralph) aproveitam o espaço de tempo entre os filmes para progredir com os arcos dos seus personagens. Dessa forma, uma vez que o relacionamento de seus protagonistas já está sedimentado, exploram as suas personalidades de modo mais incisivo, especificamente, no caso de Ralph, a sua insegurança e conformismo e, quanto a Vanellope, o seu desejo por aventura e novas experiências.

Tem-se, então, que o confronto entre as duas mentalidades é inevitável, tendo sido acelerado pelo iminente desligamento do jogo “Corrida Doce”. Com o advento da internet no fliperama, há um terreno fértil para o desenvolvimento da desavença. A introdução de Shank, que, em seu intenso jogo de corrida, funciona como uma mentora para Vanellope, faz com que Ralph sinta que a amizade dos dois está legitimamente ameaçada.

Outro ponto extremamente forte do roteiro é a ótima construção de seu universo, com excelentes ligações com o mundo real. Isto é, uma vez que aborda a convivência online, o longa arquiteta criativas conexões que, certamente, serão relacionáveis a maior parte da audiência. Destaca-se, especificamente, os conhecidos crashs dos navegadores e os irritantes anúncios pop-up, que incomodam incontáveis usuários.

O trabalho de voz [2] permanece com a mesma excelência de Detona Ralph. Sarah Silverman consegue transmitir uma gama variável de emoções com pouco esforço. Ao mesmo tempo, considerando o histórico de Gal Gadot na franquia Velozes e Furiosos, bem como o seu papel no DCEU, o que a coloca em evidência do ponto de vista midiático, nota-se que seu acréscimo à história como Shank foi uma escolha inteligente da responsável pela seleção do elenco.

Há, contudo, pontos negativos, sobretudo no que diz respeito a sua resolução . Por este ângulo, a construção dos arcos é bastante competente, mas a sua conclusão carece de cuidado e parece apressada. Trata-se de um problema não de ideias, mas sim de execução, uma vez que a finalização é, de fato, condizente com a temática abordada.

Ademais, é inevitável não se indagar se determinadas escolhas do roteiro se aproveitaram do fato de esta ser uma obra da Disney, o que, por extensão, permite que outros filmes da empresa sejam utilizados de modo a aumentar o marketing do longa, em detrimento de maior desenvolvimento narrativo. Entretanto, é importante ressaltar que, considerando a mentalidade atual da indústria cinematográfica, obcecada em apresentar diversas referências sem o contexto necessário, este fator está longe de ser tão ruim quanto poderia ser, ainda mais por se passar em um terreno (internet) tão propício para tal.

Felizmente, o saldo de WiFi Ralph – Quebrando a Internet é positivo e o sedimenta como uma das melhores animações do ano. Sua criatividade, temáticas interessantes e bonita resolução, superam as (poucas) falhas na execução. Uma indicação ao Oscar de 2019 é não apenas esperada, mas tida como certa, sobretudo ao levarmos em consideração a pouca concorrência de 2018 e a já nomeação ao Globo de Ouro de 2019.

[1] O vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação do ano foi Valente.

[2] Considera-se, para este tópico, a dublagem americana.