Crítica | Vox Lux (2018)

Vox Lux aborda a ascensão de Celeste (Raffey Cassidy/Natalie Portman), jovem que sobreviveu a um tiroteio em sua escola. Após o atentado, sua performance musical no funeral das vítimas atrai grande notoriedade. Com a ajuda de sua irmã Eleanor (Stacy Martin) e de seu Agente (Jude Law), rapidamente alcança o estrelato.

Dezoito anos após a sua descoberta, planeja um retorno aos holofotes com lançamento de seu sexto álbum, que ocorre em meio a um escândalo que afetou gravemente a sua carreira. Ao mesmo tempo em que lida com a publicidade constante, deve superar seus problemas pessoais e balancear suas obrigações como mãe de Albertine (Raffey Cassidy).

A fama sempre foi um conceito abstrato bastante utilizado por Hollywood na produção de filmes. A atração que exerce nas pessoas, bem como os seus potenciais destrutivos, são ideias interessantes nas quais um roteiro pode se apoiar. Há considerável liberdade criativa na temática em questão e ela se adapta a diversos gêneros diferentes. Apenas a título exemplificativo, Nasce uma Estrela aborda a mesma ideia, apenas sob um ponto de vista distinto. Vox Lux, contudo, apresenta consideráveis falhas narrativas, o que acaba por prejudicar a experiência.

A começar pela divisão em arcos, no qual o primeiro aborda a vida da protagonista quando ainda tinha 14 anos, o ataque que sofreu e sua posterior ascensão à ícone musical. Após, o segundo terço da obra a acompanha já adulta, à beira do lançamento de seu mais novo álbum. Por fim, em sua parte final, ocorre uma apresentação da cantora para divulgar seu disco recém lançado. Nesse sentido, entre os dois primeiros segmentos, há uma diferença de dezoito anos, comprometendo de maneira considerável o desenvolvimento de sua personagem principal. Isto porque, no começo, acompanhamos uma criança deslumbrada com a fama, perdendo, precocemente, a inocência. Antes da transformação se completar, porém, o salto temporal ocorre e altera completamente a história, quebra o ritmo e dificultando uma imersão por parte do espectador.

Nessa seara, destaca-se, desde já, que o início do longa é, certamente, o melhor dentre os três atos. A jornada da jovem Celeste acompanha a sua adaptação ao trauma, o seu primeiro contato com o mundo profissional da música e o seu relacionamento com a sua irmã mais velha. Tais fatores atraem naturalmente a audiência, criando, desde então, uma forte empatia por ela. A atuação de Raffey Cassidy – também responsável por dar vida à filha de Celeste – confere uma forte inocência à criança, ao mesmo tempo em que transmite grande determinação em superar as próprias limitações.

Natalie Portman apresenta um trabalho competente, sem grandes destaques. Particularmente, não há nada de errado em sua atuação, todavia, a sua dupla no papel é responsável por trechos mais interessantes da história. Ainda, interpreta uma artista, motivo pelo qual comparações com Cisne Negro são inevitáveis. O segundo, entretanto, tem não apenas um roteiro mais interessante como, também, a melhor performance de sua carreira. Ademais, quanto ao elenco de suporte, há pouco a ser dito. Stacy Martin, Jude Law e Jennifer Ehle pouco aparecem mas, quando o fazem, de maneira  alguma comprometem a qualidade da cena.

Por fim, cabe destacar que, uma vez que a obra conta com grandes saltos temporais, há narrações em off feitas por Willem Dafoe com o intuito de contextualizar a situação. Trata-se de uma escolha curiosa, tradicionalmente pouco utilizada que, de modo algum diminui a qualidade do filme, porém, pouco contribui para a sua melhora. Na realidade, não servem a grandes propósitos no decorrer da narrativa.

Sendo assim, Vox Lux é um longa que deixa a desejar, com uma perceptível falta de rumo em seu roteiro. Por mais que conte com uma boa atuação de Raffey Cassidy, bem como um começo interessante, estes não compensam o seu meio truncado e final vazio, tornando a experiência cansativa e desprovida de significado. Ao final, infelizmente, as expectativas permanecem inatingidas.

Filme visto durante o 20º Festival do Rio, em novembro de 2018