Crítica | Velvet Buzzsaw (2019)

Nota do Filme:

O universo da arte é algo que não é aberto para todo o público, ficando concentrado com uma elite que estabelece padrões de qualidade para o meio, concedendo explicações sobre porque tal peça é arte e outra não, sobrando ao resto das pessoas não inseridas nesse contexto apenas a tentativa de imaginar o que acontece por esses corredores das exposições. Apesar disso, todos possuem uma vaga noção sobre o assunto devido a alguns esteriótipos bastante ratificados em diversas mídias.

Partindo desse pressuposto, Dan Gilroy (O Abutre) roteiriza seu novo filme sem especificar se é uma sátira, comédia, drama, suspense ou terror, o que acaba prejudicando o conjunto da narrativa como um todo, sem falar que se torna muito raso nessa situação, por não deixar clara a proposta concebida.

É importante ressaltar que o roteirista, que também dirigiu o filme, permeia essa sua obra com bastante referências de gênios do cinema de horror, como Alfred Hitchcock, que pode ser visto logo nos créditos iniciais do longa, lembrando a estética de alguns filmes do grande mestre do suspense.

Apesar de demonstrar respeito a isso, o roteiro pode ser interpretado de duas formas: a primeira é a de que Gilroy queria mostrar a superficialidade do mundo artístico e por isso optou pelo roteiro sem grandes aprofundamentos; e a segunda é a de que o diretor apresentou diversos elementos no decorrer da narrativa, porém optou por não amarrá-los ou desenvolve-los de forma coesa ao simplesmente escolher deixa-los de lado para introduzir novas resoluções, que também não são finalizadas totalmente.

Independente disso, o resultado desse experimento no roteiro não se tornou satisfatório pois faltou substância ao tentar discorrer sobre o que é arte, como a classe artística se relaciona entre os entendidos e os pseudo-entendidos e o papel do crítico de avaliar cada obra, combinados a elementos que são característicos de pessoas desse meio, como ego, vaidade e ganância, que não funciona devida a falta de balanceamento entre esses fatores, além do outro agente que é o terror, o pano de fundo do enredo.

Além disso, o roteiro é tão supérfluo que ao mostrar que o personagem de Jake Gyllenhaal é homossexual, rapidamente tenta mostra outro lado disso, colocando a sexualidade do personagem em xeque por conta de um romance que ele tem com a ambiciosa assistente interpretada por Zawe Ashton, se tornando uma grande bola de neve de erros. Sem falar que para encerrar o enredo, o diretor opta pelo clichê, causando uma catástrofe. Porém, é importante ressaltar novamente, será que essa foi a intenção do diretor de deixar tudo tão superficial? Independente disso, ele pode ter conseguido o que quis, porém pagando o preço do desastre.

E, é necessário ressaltar a quantidade numerosa de personagens presentes no enredo, que acaba sendo prejudicada por não terem seus arcos desenvolvidos totalmente, além de que, por serem tão rasos, não há empatia do público para com eles no momento em que ocorrem fatalidades, tornando o destino deles esquecível.

Ao transpor o roteiro do papel para a tela, a direção de Gilroy aposta em três elementos: uma câmera móvel que caminha por todo o ambiente procurando o que os personagens estão fazendo enquanto a ação acontece; uma câmera que circula pelo personagem para prenunciar a tragédia que está por vir; e planos abertos para captar toda a intensidade conforme alguns personagens vão sofrendo reveses.

Com isso, é perceptível que o diretor consegue criar a tensão necessária nos momentos de terror, além de conseguir desmascarar cada personagem conforme vão sendo mostrados no ambiente, descascando a vaidade e o ego de cada um. Contudo, por conta do roteiro engessado, a direção não consegue atingir um ápice ou criar grandes momentos, se tornando apenas convencional.

Aliada a isso, há a fotografia realizada pelo veterano Robert Elswit (Sangue Negro), que trabalha com uma paleta de cores mais clara, na intenção destacar o personagem em cena naquele momento por conta das cores mais escuras que ele está usando, e também se utiliza do branco para criar sombras nos momentos de terror, funcionando como um bom elemento psicológico do filme, além de aplicar o amarelo em momentos que prenunciam uma tragédia.

A edição feita por John Gilroy que, apesar de ser comum, merece destaque em pequenos momentos por alguns cortes escolhidos, criando uma sensação de estranheza a tudo o que está ocorrendo na narrativa ao aplicar certos fade-in’s e fade-out’s ou a própria sobreposição de imagens.

A trilha sonora composta por Marco Beltrami e Buck Sanders aposta em notas agudas para criar o terror, seja através de instrumentos de corda ou sintetizadores, que, apesar de ser predominante no longa, acaba não tendo tanto destaque por não ousar demais, se tornando apenas algo simples.

Ademais, vale ressaltar que a direção de arte tem um papel importante na criação do ambiente aterrorizante, ao colocar diversos quadros cobrindo os espaços com imagens carregadas de violência e loucura, indagando o próprio espectador a analisar os quadros simultaneamente em que os personagens fazem o mesmo.

Por último, as atuações do núcleo é essencial para o desenrolar da trama. Por exemplo, Jake Gyllenhaal encarna um crítico de arte implacável, com a problemática do roteiro apresentada anteriormente, que caminha do seu auge até a sua queda, passando por um próprio conflito interno com o qual a audiência não se importa pelo pouco desenvolvimento disso e por conta do terror pertencente a narrativa, na qual captura diversos maneirismos estereotipados sobre essa classe, sendo bem sólida sua atuação dada as devidas ressalvas.

Porém quem se destaca são as personagens de Rene Russo e Zawe Ashton, uma fria galerista e uma assistente ambiciosa, respectivamente, na qual ambas se utilizam de todos os recursos que tem a mão para ascenderem a uma condição ainda mais superior, sendo inegável os olhares frios e calculistas que as duas lançam, a forma como elas manipulam os personagens para obterem o que quiserem. Contudo o roteiro também as acaba prejudicando por não ir até o cerne dessas questões, sempre passando superficialmente por elas.

Logo, Velvet Buzzsaw é um filme que, apesar de conseguir estabelecer ótimos simbolismos, não consegue concretizar a sua proposta inicial, visto que ao tentar dissecar o mundo artístico em sua superficialidade acabou se tornando superficial demais para alcançar isso.