Crítica | Upgrade (2018)

Com roteiro interessante, terror futurista da Blumhouse deverá funcionar para além de fãs de Black Mirror

Quando pensamos em qualquer trama passada em um futuro trágico, onde a tecnologia se volta contra seus criadores, é inegável recordar de Black Mirror, a série homônima, que com a ajuda da Netflix, instantaneamente arrebatou milhares de fãs pelo mundo todo. Entretanto a trama desenvolvida pela Blumhouse no longa Upgrade, diferentemente de Black Mirror, sofre com seus preciosismos e baixo orçamento, mesmo assim nos surpreende, ao entregar uma trama de excelente qualidade.  

A Blumhouse ficou famosa ao desenvolver Atividade Paranormal (2007), filme que rendeu milhões, com orçamento quase inexistente e após isso já acarreta centenas de títulos, como Sobrenatural (2009) e toda a franquia criada após o sucesso do filme, assim como o seu mais novo sucesso de crítica, Get Out, que faturou Oscar em 2017 por roteiro original, além de milhões em bilheteria. Agora a produtora aposta numa trama ainda voltada em sua assinatura clássica no terror, mas com ênfase em um cenário futurista.

Upgrade conta a história de Grey (Logan Marshall-Green), que em um futuro não tão distante, após perder a esposa em uma emboscada, assim como quase todos os movimentos do corpo, aceita uma proposta para ter um chip experimental implantado em sua medula espinhal, com a promessa de ter seus movimentos restabelecidos.

Partindo do que foi mencionado sobre a história de Grey, as coisas simplesmente fogem ao controle do criador do experimento, assim como fogem do controle de Grey, que mergulha de cabeça em busca de sua vingança pessoal e se perde em meio uma aventura sanguinária e uma pilha de cadáveres.

O filme alterna entre muitos tons de roteiro e ritmos na história, fica parecendo uma versão cinematográfica do personagem desenvolvido por M. Night Shyamalan em Fragmentado (2016), possuindo várias identidades e não entrando em sintonia com nenhuma, mas fora o fato do filme não assumir uma única identidade, sua essência no terror funciona muito bem na parte final do longa, assim como a pegada dramática no início da trama. O suspense em que somos emergidos arranca suspiros, nos faz viajar para um futuro trágico, onde mais uma vez, nos tornamos dependentes das máquinas, e começamos a notar todos os problemas que isso acarreta para a espécie humana, em uma fase que podemos dizer ainda ser, pré-reinado das máquinas. Entretanto, ao nos jogar problemas que um futuro assim nos reserva, o filme nos dá uma falsa promessa para explorar um universo muito rico e recheado de possibilidades dramatúrgicas, porém a trama nos dá um banho de água fria e foca apenas em uma batalha pessoal por vingança, contando uma história que já foi contado várias vezes no cinema, onde o roteiro apenas se torna original, pela forma que decidiu contá-la.

A narrativa em Upgrade destoa de muitos clássicos que abordaram o mesmo tema, pois o longa tem uma preocupação em desenvolver seus personagens centrais e a trama que os envolve de uma forma bem peculiar, diminuindo a possível expansão desse universo, mas em contrapeso, acrescentando suspense para a trama, o que percebo ser um ponto muito positivo. De um drama existencial, com um fundo Sci-Fy, para um filme policial. E de um suspense muito bem amarrado, até chegar no gênero do terror B. Essas são as alternâncias em Upgrade, e posso dizer ainda com certo entusiasmo, que o longa acerta na medida apenas quando assume sua identidade mais simplória. É exatamente aí onde tudo funciona e o filme fluí.

A fotografia do filme é muito bem construída, e ao ser acompanhada de uma trilha sonora inteligente, faz recair sobre o longa uma camada sombria. Logan Marshall-Green no papel de Grey está ótimo, e se encontra impecável, desde suas atuações mais dramáticas, até suas lutas excepcionalmente coreografadas, que com o auxilio de efeitos de câmera, nos dão um ritmo de luta muito peculiar e original. Em sua linguagem mais simplória Upgrade acerta mesmo errando o tom, e se torna um dos títulos mais promissores do ano dentro do gênero, cabível de elogios, apesar dos preciosismos citados, pois nos entrega uma trama bem amarrada e um filme tecnicamente de qualidade para uma ficção científica de baixo orçamento.