Crítica | Um Lugar Silencioso – Parte II (A Quiet Place – Part II) [2021]

Nota do Filme:

Depois de vários adiamentos por conta da pandemia do novo coronavírus, Um Lugar Silencioso – Parte II finalmente chega às telas dos cinemas para dar sequência à história contada no primeiro filme. Mais uma vez escrito, dirigido e estrelado por John Krasinski, o longa mantém o tom do anterior, mas inova ao explorar mais do universo pós-apocalíptico.

Os filmes começam da mesma forma, mesma trilha sonora e igual locação (mercearia), o que pode levar à falsa percepção de que a Parte II seguirá uma fórmula, reproduzindo mais do mesmo, apenas repetindo o que foi sucesso no anterior. Contudo, é nos minutos iniciais que este se destaca, dando uma prévia do que causou todo o caos visto na Parte I.

A história inicia com um prólogo, com os personagens em um jogo de beisebol de Marcus (Noah Jupe), filho mais velho do casal protagonista, momentos antes do ataque alienígena. E é nesse ponto que o longa se potencializa, porque mostra ao espectador um pouco de como tudo começou. Os primeiros minutos são extasiantes. Desde o início temos as criaturas saltando pelas ruas e caçando os humanos com extrema ferocidade.

No entanto, o prólogo é apenas um aperitivo que deixa no espectador a vontade de ver mais e em menos de 12 minutos cede espaço para a continuação dos eventos da Parte I, partindo exatamente do ponto em que esta terminou. A produção faz algumas referências ao anterior, quando, por exemplo, Lee (John Krasinski) passa por uma prateleira repleta de aviõezinhos e logo mais se vê o rosto de Roger (Wayne Duval), o dono da mercearia, enquadrado com várias pilhas ao lado.

A obra não foge de alguns clichês e da reprodução de recursos usados no original, como a ausência de som na tela em momentos cruciais, para retratar a sensação da menina com deficiência auditiva, Regan Abbott (Millicent Simmonds), e provocar o espectador. O gore ganha espaço novamente. Se no primeiro vimos um prego entrando no pé da protagonista gestante, neste temos uma armadilha para urso arrebentando o tornozelo de outra personagem. O embate silencioso entre Evelyn Abbott (Emily Blunt) e uma criatura se repete aqui, também com água ao redor de ambas.

A trilha de Marco Beltrami é o destaque, é muito bem executada, seja nas horas de aflição, ação, seja nas cenas de drama ou até no silêncio da menina Regan. Tudo é colocado de maneira acertada e eficaz para conferir as sensações que a história demanda. A direção é competente, assim como as atuações. Não se exige aqui tanto de Emily Blunt como na Parte I, em que ela atuou como uma mãe tendo que dar à luz nas piores circunstâncias, mas ela convence como uma mulher ferida pela recente perda do marido, que tem que cuidar de três filhos sozinha em uma realidade apocalíptica repleta de alienígenas aterrorizantes.

O amigo do casal, Emmett (Cillian Murphy), surge como um sobrevivente endurecido e desacreditado que não tem mais esperanças em um mundo normal. A presença e o talento de Murphy abrilhantam a trama e trazem mais energia ao enredo, entretanto há momentos em que parece que seu personagem tem algo a dizer, como se a qualquer instante fosse escapar algum segredo, que nunca chega a ser revelado.

As criaturas cegas com audição hipersensível, a luta para sobreviver em silêncio e as novas ameaças enriquecem o universo criado a partir da Parte I e tende a crescer e se consolidar como franquia. Um terceiro longa foi confirmado pela Paramount, estúdio responsável pela produção e, inclusive, já possui data de estreia: 31/03/2023.

A despeito das repetições, a narrativa é fluida e traz elementos que agregam à película com personalidade e criatividade suficientes para reduzir essa questão. O carisma de Millicent Simmonds, já conquistado no original, e o empenho de Noah Jupe, que aqui mostra seu personagem rompendo barreiras para buscar a própria força, ajudam na vontade de querer ver mais da família Abbott. Outro fator que conta em favor do filme é o paralelo com a realidade atual, tendo em vista que também estamos diante de uma ameaça real precisando do cuidado uns dos outros para sobrevivermos na busca da “vida normal” de volta.

Engana-se quem pensa que este é mais um terror com monstros pulando na tela e dando sustos fáceis. Um Lugar Silencioso – Parte II conta com uma pitada de drama em um mundo pós-apocalíptico em que uma família tenta sobreviver arriscando-se uns pelos outros e sem receio de pedir ajuda. Como era de se esperar, haverá um terceiro filme e, ao que parece, esse universo ainda tem muito o que ser explorado.

Um Lugar Silencioso – Parte II estreia em 22 de julho de 2021 nos cinemas.

Direção: John Krasinski | Roteiro: John Krasinski | Ano: 2020 | Duração: 97 minutos | Elenco: Emily Blunt, Cillian Murphy, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Djimon Hounsou, John Krasinski, Okieriete Onaodowan, Scoot McNairy.