Crítica | Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All At Once) [2022]

Nota do Filme:

O que parece no primeiro momento um grande clichê, se revela uma das melhores estreias do ano. Conhecemos nos primeiros minutos do filme uma família de imigrantes chineses, radicada nos EUA, que é dona de uma lavanderia e mora em um cubículo no andar de cima do próprio negócio. Em meio ao caos dos preparativos de uma festa de ano novo e a arrumação dos documentos para uma auditoria na Receita Federal, conhecemos Evelyn Wang (Michelle Yeoh) e seu marido, o simpático Waymond Wang (Ke Huy Quan), donos e administradores do pequeno negócio, que está por um fio.

Na tentativa de conciliar a chegada do seu rigoroso pai, Gong Gong (James Hong) e as expectativas frustradas sobre a própria filha, Joy Wang (Stephanie Hsu), nossa protagonista se vê completamente perdida e frustrada com o rumo que sua vida tomou: clientes insatisfeitos, uma família que não a ouve e, ainda por cima, uma rigorosa auditoria sobre as contas do seu meio de sobrevivência.

Tudo isso muda quando, de repente, dentro do elevador da Receita Federal, seu marido começa a agir de forma estranha e a orienta a seguir alguns passos ainda mais estranhos. Foi então que eu percebi que os clichês tinham acabado. De início, Evelyn não compreende o que está acontecendo – e nem nós – mas, mesmo assim, cumpre as etapas escritas numa folha que seu marido lhe entregou ainda no elevador, e aí começa uma das histórias mais nonsense e engraçadas a que já tive o prazer de assistir.

A trama gira em torno de uma espécie de sátira ao multiverso, em que a lógica e a noção são constantemente desafiadas, ao mesmo tempo em que temos toques de drama e também de ação. Passamos por lutas de kung-fu, mundos alternativos jamais imaginados e muitas referências (como Carmen Miranda e 2001: Uma Odisseia no Espaço).

Destaque para a atuação de Michelle Yeoh, que traz uma das melhores performances de sua carreira, para a montagem do longa, que nos transporta para realidades paralelas com fluidez, e, é claro, para a atuação da sempre incrível Jamie Lee Curtis, que interpreta uma rígida fiscal da receita que transforma a vida da família Wang num verdadeiro inferno.

Os efeitos visuais são hipnotizantes e elevam a qualidade do roteiro à máxima potência. Somos convidados a conhecer todas as possíveis versões paralelas existentes de Evelyn e nos divertimos com as mais bizarras e inesperadas versões daquela tão simples e mundana mãe, esposa, imigrante e quase falida.

Com um enredo simples e complexo ao mesmo tempo, passamos a refletir sobre os mais diversos assuntos, desde as relações familiares até a existência de outras versões nossas que conquistaram todas as vidas que deixamos para trás. Pelos fracassos da Evelyn, pensamos também nos nossos próprios fracassos e em tudo o que poderíamos ter conquistado. Mais do que isso, pensamos no que escolhemos e no que ainda podemos escolher.

A distribuição do filme nos EUA foi garantida pela produtora A24, já conhecida por grandes sucessos como A Bruxa, O Farol e Midsommar. No Brasil, os direitos de exibição ficaram por conta da Diamond Filmes. Com direção e roteiro por Dan Kwan e Daniel Scheinert, o filme está disponível nos cinemas em todo o Brasil, e você pode conferir o trailer abaixo: