Crítica | Thor [2011]

Nota do Filme:

Qualquer pessoa hoje reconhece que o universo Marvel é a maior franquia cinematográfica da atualidade, por mais que não acompanhe os filmes ou seja fã da empresa, é inegável que a Disney consolidou um império de super-heróis altamente rentável e que atinge várias camadas da sociedade por conta do entretenimento produzido. Contudo, ao analisar o início desse projeto, percebe-se que foi uma aposta ambiciosa bem-sucedida, na qual ninguém esperava o tamanho da proporção que tomou.

Um dos filmes que fizeram (ou fazem) parte da Primeira Fase desse universo é Thor, que narra a história do personagem-título, interpretado por Chris Hemsworth. Nela, o protagonista estava prestes a receber o comando de Asgard das mãos de seu pai Odin (Anthony Hopkins) quando forças inimigas quebram um acordo de paz. Disposto a se vingar do ocorrido, o jovem guerreiro desobedece as ordens do rei e quase dá início a uma nova guerra entre os reinos. Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira seus poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba conhecendo a cientista Jane Foster (Natalie Portman) e precisa recuperar seu martelo, enquanto seu irmão Loki (Tom Hiddleston) elabora um plano para assumir o poder. Mas os guerreiros do Deus do Trovão fazem a mesma viagem para buscar o amigo e impedir que isso aconteça. Só que eles não vieram sozinhos e o inimigo está presente para uma batalha que está apenas começando.

Inicialmente, o filme já estabelece que a confusão apresentada desde as primeiras cenas será constante na narrativa, obedecendo a já consolidada “fórmula Marvel” de se fazer filmes. Essa bagunça se dá por conta das decisões do veterano diretor Kenneth Branagh (Assassinato no Expresso Oriente), na qual não opta por um único estilo de filmagem, aplicando diferentes modos durante uma única cena, sem que haja realmente um significado para isso.

Isso é prejudicial, pois conforme a cena inicial, o diretor deixa de criar ou estabelecer a tensão que poderia advir nesses momentos. Além disso, vale ressaltar que o sucessivo número de cortes também acelera muito a ação, o que prejudica ainda mais esse trabalho.

Contudo, apesar dessas falhas técnicas, há de se ressaltar a fotografia e a direção de arte que compõe o mundo de Asgard. A primeira aplica tons de amarelo para demonstrar o luxo da realeza, a grandiosidade do reino, funcionando bem nesse quesito. E a segunda deve-se reconhecer a criatividade utilizada para criar o reino mitológico, reproduzindo estruturas bastantes suntuosas, mesmo que haja CGI demais.

Ainda no quesito da fotografia, a cor que predomina no decorrer da narrativa é o azul-escuro, dando contornos sombrios e estabelecendo um estado constante de perigo e preocupação para os personagens.

Apesar disso, conforme o enredo avança, novamente, a direção de Branagh não encontra a tônica ideal, movimentando-se bastante para deixar o sentimento de ação constante, utilizando demasiados ângulos inclinados que não atingem objetivo nenhum, além de ser utilizada em diversas tomadas sem necessidade, fazendo com que esse artifício se desgaste e se torne banal, podendo-se questionar porque ele tomou essas decisões duvidosas.

No entanto, essa confusão acerta em alguns momentos, por menor ou mais sortuda que seja, ao utilizar a câmera em círculos para hipnotizar a audiência sobre determinado objeto, como feito no momento que o Mjolnir aparece. Entretanto, a montagem picotada a prejudica nessas horas, deixando de atingir o que conseguiria.

Vale ressaltar que o diretor se esforça, porém insuficientemente, e produz algumas rimas visuais na narrativa, que se tornam sem graças justamente por serem utilizadas em momentos bastante superficiais, ao mostrar o local onde o martelo de Thor cai e quando ele vai buscá-lo, como supracitado.

Além disso, no quesito das cenas de ação, na qual Branagh poderia se destacar, é anulado devido à pouca dificuldade das coreografias, o grande volume de CGI aplicado e o excessivo número de cortes, novamente, que deixa a violência dinâmica sem deixá-la visível de forma clara.

Nem mesmo nos momentos dramáticos o diretor acerta, ao aproximar a câmera no rosto dos personagens para impactar mais, sofrendo nesse ponto ou com a falta de empenho do elenco neste momento ou pelos roteiristas inserirem diálogos pobres e rasos.

Com isso, o roteiro aplica a já citada fórmula Disney ao máximo, com reviravoltas previsíveis, desenvolvimento rasos de personagens e aplicação da jornada do herói no seu limite. Contudo, por se tratar de um filme de origem, não haveria outro caminho para ser realizado se não ousasse na estrutura. Ademais, o ponto positivo do script é a sacada do humor de colocar um deus asgardiano andando pelo mundo humano sem conhecer seus costumes, criando a ironia com esse choque de realidades.

E, talvez, a parte mais desenvolvida da narrativa é sobre o personagem Loki, que por ficar em segundo plano não é o foco da audiência, com o roteiro desenvolvendo a sua trama paralelamente a de Thor, além da performance bastante carismática de Tom Hiddleston, atingindo emoções precisas quando necessitado durante os momentos do seu arco dramático.

Ainda, o restante dos personagens beiram o clichê e o absurdo. Por exemplo, a cientista Jane Foster interpretada por Portman é bastante problemática, pois ela é apresentada como uma grande profissional de sua área para depois o roteiro subjugá-la ao transformá-la em “donzela indefesa”, além de se tornar preceptora de um homem adulto e ensinar a ele se comportar, independentemente de ser de outro mundo, com o texto restringindo o espaço para a atriz se destacar, sendo desperdiçado o seu talento.

Aliás, a relação dela com Thor não é feita de forma orgânica. Na verdade, a forma como o deus asgardiano se relaciona com todos os terrestres soa artificial, além de conseguir se adaptar ao modo de vida humano de repente, como se tudo se resolvesse magicamente.

No entanto, apesar de Chris Hemsworth exalar carisma igual Tom Hiddleston, o roteiro o prejudica ao transformá-lo em um indivíduo mimado, arrogante e prepotente, não necessitando de um grande trabalho por parte do ator além de sua personalidade, funcionando diversas vezes como o próprio alívio cômico do filme.

Indo além das atuações, têm-se a montagem, em um contexto geral, apesar de possuir os erros já mencionados, consegue estabelecer as duas linhas do tempo e contar a história em Asgard e na Terra sem uma atropelar a outra, funcionando sem se comprometer. E ainda, os efeitos especiais, juntamente com o elenco, é o que torna o filme mediano, porém pouco memorável, deixando claro como um grande orçamento pode fazer a diferença no resultado final, por mais comercial que seja a proposta.

Portanto, apesar de possuir diversos problemas, Thor funciona para iniciar a jornada do deus nórdico no Universo Marvel, pelo menos para apresentar o super-herói. Contudo, como entretenimento é esquecível e em termos técnicos, péssimo.