Crítica | A Árvore dos Frutos Selvagens (Ahlat Agaci) [2018]

Nota do filme:

Crescimentos pessoais e relações familiares são temas recorrentes nos filmes, em que grandes mestres do cinema dissecaram esse tópicos a ponto de criarem obras atemporais, seja pela forma de elucidação de questões que rondam esses espectros ou pelo simples fato de se querer contar uma historia, o fato é que esses são assuntos que agitam o imaginário de todos, criando curiosidade sobre qual a abordagem será adotada pelo artista.

E no longa em questão não seria diferente, utilizando-se de alguns clichês que são praticamente impossíveis de fugir, como os filhos se acharem melhores que os pais, o roteiro consegue estabelecer os dilemas do protagonista paralelamente ao seu objetivo face as relações familiares, principalmente com seu pai, as pessoas que estavam em volta dele durante seu crescimento e a falta de perspectiva e pertencimento que sente no vilarejo em que nasceu. Aliado de diversas indagações sobre questões existenciais contextualizadas, o único ponto negativo do roteiro é que ele acaba se diluindo quando aborda outros temas, como religião, perdendo sua coerência e se tornando muito prolixo nesses momentos.

Contudo, mesmo nas ocasiões em que o roteiro se torna moroso, o diretor consegue estabelecer a relação de seu protagonista com o mundo a sua volta de forma singela, porém eficaz, na qual consegue contrastar o sentimento de não pertencimento do personagem com a imensidão da vila e da cidade, utilizando-se de grandes planos abertos para intensificar isso, além de usar recursos práticos e simples, como fechar a câmera nos rostos dos personagens para estabelecer relações e criar tensão durante aquele ato, além de empregar de forma moderada outros mecanismos, sendo uma delas a câmera na mão, conduzindo assim o filme de forma equilibrada durante os seus 188 minutos de duração.

Ademais, complementando a competente direção têm-se a edição e a fotografia. A primeira é feita pelo próprio diretor, Nuri Bilge Ceylan, na qual ele consegue ditar o ritmo do longa de forma fluida, apesar de ocorrem decisões questionáveis como o uso do jump cut que ele introduz em um único momento avulso, podendo confundir o espectador mais desatento, porém no geral a montagem é satisfatória, conseguindo estabelecer e manter as rédeas temporais da narrativa. Já a segunda, realizada por Gökhan Tiryaki, por si só já é vistosa por conta dos inúmeros planos abertos, em que qualquer um deles poderia facilmente se tornar um papel de parede, além de conseguir estabelecer os sentimentos dos personagens em cada uma das situações em que são inseridos, seja em uma discussão familiar ou em um momento mais introspectivo.

Apesar disso, a falta de carisma do protagonista acaba deixando a narrativa um pouco arrastada. Falta ânimo no personagem de Dogu Demirkol, porém essa apatia acaba não prejudicando tanto o resultado final pois a relação do protagonista com o núcleo de personagens que compõe o enredo é muitas vezes fria, sarcástica e egocêntrica, sendo isso colocado em consonância ao seu pai, interpretado por Murat Cemcir, que apesar de em quase todos os diálogos com seu filho possuírem segundas intenções, o coadjuvante acaba se tornando mais simpático, modesto e humilde, onde o espectador conhece as duas faces do personagem.

Os outros elementos que compõe o longa, como já foi dito anteriormente, são colocados de forma equilibrada, não sendo algo extraordinário ou prejudicial, apenas cumprindo com o objetivo que era responsável. Por exemplo, a trilha sonora não é predominante durante a maior parte da projeção, ela é empregada apenas em momentos específicos onde cumpre com a função de criar a emoção daquele instante. 

Pode-se dizer basicamente o mesmo da direção de arte, design de produção, mixagem e edição de som, figurino e maquiagem. Todos cumprem o seu propósito de forma despretensiosa, funcionando de forma sucinta e pragmática durante toda a projeção.

Portanto, o longa consegue cativar o espectador por utilizar de todos os recursos cinematográficos de forma equilibrada, tendo uma única ressalva de que poderia ser mais enxuto o tempo de duração, ele acaba se tornando uma experiência interessante sobre o estudo do ambiente familiar face ao crescimento do filho, possuindo resoluções e questionamentos corriqueiros que cativam o público, em que o espectador ou espectadora que resolver assisti-lo tenha apenas paciência para aguentar os seus longos 188 minutos.