Crítica | A Culpa (Den skyldige) [2018]

Nota do Filme:

O cinema dinamarquês vem se consolidando como um dos melhores da década, sempre aparecendo em listas de festivais importantes, como Cannes, e surgindo aos indicados do Oscar, tendo inclusive ganho a estatueta em 2011, revelando uma vasta gama de artistas talentosos, como Mads Mikkelsen, ou o próprio diretor do longa dessa crítica, Gustav Möller.

Além disso, é necessário reconhecer ainda mais o mérito do diretor por se tratar da sua estreia na direção em longa-metragem, pois ele consegue manter a tensão de uma narrativa que possui praticamente um personagem enquanto longa se dá por ligações telefônicas, na qual os outros personagens que movimentam o enredo só tem as suas vozes ilustradas em tela, nunca associando-as a um rosto. Fora ainda que a historia se passa apenas na central de atendimento policial, o que poderia deixá-la cair na morosidade, porém não é o que acontece.

Do mesmo modo, além da capacidade do diretor de conseguir manter a tensão com a direção, deve-se ressaltar a importância do roteiro nesse caso, o qual ele também assina, pois é através dele que se dará a construção da historia. Porém a trama vai além de qualquer convencionalidade, pois ao mesmo tempo em que ela é construída para a audiência, vai se desconstruindo para subverter com as expectativas do público, se tornando imprevisível pelas suas reviravoltas, de forma surpreendente pois esse acaba se tornando seu ponto forte.

E, para a direção e o roteiro funcionarem perfeitamente, é necessário um ator que consiga transmitir as propriedades de cada um, sem deixar pender para um monólogo pedante, alcançado com perfeição pelo ator Jakob Cedergren. Ele consegue capturar a atenção do espectador durante os 85 minutos da película, transmitindo os conflitos internos do seu personagem em face da crise externa que move o longa, deixando os nervos a flor da pele por conta da tensão instaurada e a constante dúvida dos fatos.

Vale ressaltar ainda que a ausência de trilha sonora ratifica ainda mais o sentimento de claustrofobia que o longa acarreta, não tentando suavizar ou impactar ainda mais o espectador pois sabe que é desnecessário, visto que a situação por si só é sufocante, transmitindo esse sentimento de forma seca e direta ao público.

Contudo, pelo longar apostar no elemento surpresa, ele poderá perder um pouco do seu brilhantismo em uma próxima vez que for assistido, visto que a tensão se dá pelo desconhecimento dos fatos e a incessante curiosidade de saber os eventos que culminaram daquele ponto até os que estão decorrendo após os fatos anteriores. 

Portanto, é um filme que facilmente pode pintar em algumas listas de melhores do ano, sem falar que tem força para disputar o Oscar de 2019, porém mesmo se não houver mais reconhecimento para ele, ainda vale o ingresso por conta de sua qualidade.