Nota do filme:
Encontrar o lar em outra pessoa, mesmo que tenhamos que ser seguros o suficiente antes de fazer isso, esse acontecimento é maravilhoso e as pessoas que já passaram por tal coisa, sabem muito bem como a experiencia é boa e constantemente gratificante.
Somos estrangeiros em nossos próprios países e casas, parece que essa é a mensagem que Walter Salles e Daniela Thomas querem passar com “Terra Estrangeira” (1996). Dirigido pelos dois, o filme conta a história de Paco (Fernando Luís Pinto), morador de São Paulo e de Alex (interpretada por Fernanda Torres), que vive em Portugal. Ele acabou de perder a mãe e em troca de entregar uma encomenda, vai a Lisboa com o objetivo de ir para Espanha conhecer a cidade natal da mãe, ela namora um homem viciado em heroína, músico, que tenta vender a encomenda sozinho, atrapalhando Paco em seus planos.
A obra expõe esses conflitos usando uma fotografia muito bem-feita por Walter Carvalho e um roteiro muito bem escrito, que mostra que a “terra estrangeira” do título não é apenas a capital portuguesa, mas o nosso sentimento com nós mesmos e onde estamos em nossas vidas.
Porque Paco está em busca de si mesmo, por isso ele larga a faculdade de física para ser ator, além de se sentir no dever de cumprir o desejo da mãe (interpretada por Laura Cardoso), de conhecer a cidade de onde ela veio. Em compensação, Alex se sente estrangeira fisicamente, por estar em um país que não gosta devido a uma situação difícil no Brasil (Mandato de Fernando Collor e anúncio do congelamento das contas) e também por não gostar de si mesma e da sua vida, com vontade de ser melhor e se sentir em casa.
Casa que não precisa ser, necessariamente, o Brasil, como fica provado pelo relacionamento com Paco. Graças a esse envolvimento, a personagem cresce e se torna mais forte e independente, ao mesmo tempo em que ela se descobre como pessoa e passa a lutar contra suas frustações de forma mais ativa, ela encontra em Paco alguém em quem confiar, mesmo que no começo a relação seja um tanto conturbada para os dois participantes.
Esses sentimentos são muito bem expostos ao público por Fernanda Torres, atriz talentosa que transmite naturalidade de maneira simples, desde seu ódio pelo trabalho de garçonete e aos abusos do chefe, até o amor fraternal que sente por Pedro (o dono da livraria) e claro, sem esquecer do sentimento que nutre por Paco, verdadeiro nas suas formas mais profundas.
Assim, “Terra Estrangeira” não é apenas um filme que conta uma história simples sobre sentimentos, a obra relata como podemos nos encontrar em outras pessoas e dessa forma, construirmos nosso lar e edifica-lo com amor, amizade e confiança.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com