Crítica | Profile (2018)

Nota do Filme:

Profile segue a jornalista Amy Whitaker (Valene Kane) que, em sua ambição, decide desvendar como o Estado Islâmico recruta jovens mulheres à sua causa. Com o auxílio de sua chefe Vick (Christine Adams) e Lou Karim (Amir Rahimzadeh), especialista em tecnologia do jornal, cria um perfil falso e passa a gravar suas conversas com Abu Bilel Al-Britani (Shazad Latif), um possível recrutador.

O longa é baseado no livro Na Pele de uma Jihadista: A história Real de uma Jornalista Recrutada pelo Estado Islâmico, por meio do qual a escritora Anna Erelle narra a sua experiência de vida. Ainda, assim como Buscando…, se passa totalmente na tela do computador da protagonista, que conversa constantemente por Skype com o seu contato na Síria.

Dessa forma, cumpre destacar desde já, que, pouco a pouco, estes tipos de filmes ajudam a construir um novo subgênero na sétima arte. Afinal, uma vez que houve grandes avanços nas relações interpessoais por meios eletrônicos, é apenas natural que o cinema, de um modo geral, se adapte às novas possibilidades de estruturas narrativas. Certamente ocorreram – e ocorrerão – empreitadas malsucedidas, mas, a despeito disso, vê-se com bons olhos toda nova forma de se contar uma história.

Nesse sentido, Profile cumpre muito bem a sua função de thriller, considerando que há uma boa aliança entre a temática naturalmente atraente e o meio pelo qual é narrada. Isto é, o tom mais intimista acaba por imergir o espectador mais rapidamente, aumentando a tensão com facilidade. Assim, há certa teatralidade no formato narrativo, pois representa o mundo online sem tantos pudores quanto se esperaria. Aqui, a internet não se limita a um antro infinito de conhecimento, sendo um terreno propício à experiências perigosas.

Ao mesmo tempo, a obra aborda problemáticas inerentes à infiltração em grupos do tipo, uma vez que o perigo não é apenas ser descoberto, mas também perder a própria identidade, tornando-se vítima da empreitada a qual deu causa. Timur Bekmambetov, diretor da película, toma grandes liberdades criativas, de modo que, a despeito de se tratar de uma história real, o roteiro consegue balancear o suspense acerca das motivações de sua personagem principal e de seu recrutador, fazendo com que o espectador não tenha certeza se ela, afinal, se perdeu em seus próprios objetivos.

Importante, ainda, relembrar que o contexto no qual está inserida justifica qualquer erro que a possa vir a cometer. Isto é, trata-se de uma pessoa sem experiência no tema que, devido a um cenário de constante estresse, está fadada a incorrer em toda sorte de equívocos. Concomitantemente, o aprofundamento do relacionamento entre ambos acaba por minar certas barreiras que a protagonista pudesse ter criado para evitar tais ocorrências. Entende-se, então, que na realidade seria pouco crível crer que uma simples civil, em sua posição, conseguisse se manter fria e impassível no decorrer de toda a trama.

Faz-se necessário, também, elogiar a atuação da atriz Valene Kane e do ator Shazad Latif, sobretudo quando levamos em consideração as limitações evidentes da edição, afinal, restringem-se à uma tela de computador, com foco em conversas por Skype entre Amy e Bilel. Não se tratam, ressalta-se, de performances brilhantes, mas há uma evidente química entre as partes, o que ajuda a costurar o conto de maneira competente e satisfatória. Ao mesmo tempo, o trabalho de Christine Adams e Amir Rahimzadeh são bons complementos à obra.

Contudo, destaca-se que há um pequeno problema quanto ao ritmo do longa. Isto porque, em determinados momentos, sobretudo no segundo ato, a história se arrasta um pouco. O filme provavelmente se beneficiaria de um pequeno corte no seu tempo total de duração – 1h45min. De qualquer forma, certo é que esse pequeno fator negativo não é, por si só, suficiente para diminuir a qualidade do conjunto como um todo.

Dessa forma, tem-se que Profile é uma ótima obra, permeada por uma tensão constante. Ao mesmo tempo consegue, de maneira bem sucedida, integrar a sua premissa à sua estrutura narrativa, de modo que um se alimenta do outro, com exceção de pequenos erros de execução. Não obstante, conta com performances convincentes e aborda, também, uma relevante problemática da atualidade, certificando-se como um dos expoentes do novo subgênero.

Filme visto durante o 20º Festival do Rio, em novembro de 2018