Nota do filme:
Há uma certa atração por histórias de serial killers e psicopatas que afetam o imaginário de grande parte das pessoas, na tentativa de compreender os motivos que levaram aquilo a acontecer, o fascínio pela mente do indivíduo que cometeu os atos ou pela própria mitologia que se montou em volta disso, o inegável é, a curiosidade sempre está presente.
“Cinebiografia de Ted Bundy (Zac Efron), serial killer que matou, pelo menos, 30 mulheres em sete estados norte-americanos durante a década de 1970. Só que o filme é contado a partir do ponto de vista de sua namorada, Elizabeth (Lily Collins), que não tinha conhecimento de seus crimes.”
A própria sinopse estabelece a regra primordial para contar a sua narrativa: utilizar o ponto de vista da namorada de Ted. Porém, o que deveria ser seu ponto forte, se transforma em uma faca de dois gumes, pois essa ótica única sabota o roteiro, além de elevar ao máximo que “o amor é cego”.
Com isso, o roteiro funciona ao utilizar essa regra pois deixa a audiência no escuro sobre a situação, igualmente com a personagem de Lily Collins, aliada de uma edição rápida, não elucidando os acontecimentos e nem os colocando na tela, apenas há a tentativa de Ted provar sua inocência a qualquer custo.
Contudo, o roteiro se prejudica em dois pontos: no desenvolvimento de Elizabeth e na tentativa de forçar um charme no Ted. No primeiro, ela se torna uma pessoa facilmente manipulável, soando pouco plausível pela história narrada, justificando essa escolha com a reviravolta canalha na parte final do longa, que, além de transformá-la no pior elemento da narrativa, há uma tentativa de torná-la relevante apenas no terceiro ato, prejudicando ainda mais a sua construção. O segundo prejudica a própria atuação de Zac Efron, pois, quando o script força essas situações, por mais que o ator se destaque, soa falsa devido à como isso foi apresentado.
Ademais, Efron entrega a atuação mais madura da sua carreira, apesar de não ser excepcional, em que monta o psicopata com um tom de voz baixo, transmitindo o charme naturalmente e convencendo a audiência e, principalmente, sua namorada.
Entretanto, a empatia que se cria por Ted não ocorre com Elizabeth, pois a edição, que faz múltiplos cortes no início da narrativa, prejudica a apresentação dos personagens, sendo que o personagem de Efron só se recupera por conta do grande tempo de tela que tem.
Além disso, é necessário ressaltar em como a fotografia trabalha a química do casal, sempre na tentativa de ressaltar o laranja na tela quando o casal está em cena, mudando a tonalidade para ilustrar como está o relacionamento dos dois, além de alternar para o azul conforme eles vão desgastando a relação.
Portanto, Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile (sem título oficial no Brasil), poderia ser um filme maior se não se sabotasse, pois conta uma ótima performance de Zac Efron, sendo o grande destaque do longa, em um tema no qual as pessoas têm interesse, o que seria excelente se os erros não fossem tão aparentes.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.