Crítica | Tarde para Morrer Jovem (Tarde Para Morir Joven) [2018]

Nota do filme:

Na virada da década de 1980 para a de 1990, o Chile passava por profundas transformações sociopolíticas, com o fim da ditadura de Augusto Pinochet e o restabelecimento da democracia. Nesse cenário, uma comunidade isolada composta por familiares e amigos se instala próxima à cordilheira dos Andes, onde descobertas, desejos e inquietações vem à tona. É essa premissa de Tarde para Morrer Jovem e, embora soe simplória e pouco ambiciosa, o longa dirigido e escrito por Dominga Sotomayor Castillo possui diferentes camadas e subtextos.  

Competente e exibindo uma admirável disciplina, Castillo cria planos ricos e cheios de significado, mesmo utilizando uma razão de aspecto reduzida, contando para isso com o eficiente trabalho do diretor de fotografia Inti Briones, que dá tons de época para reforçar certa nostalgia (o que chega a lembrar No, de Pablo Larraín, que também se passa no contexto da redemocratização chilena).

Por sua vez, o roteiro é pouco (ou nada) expositivo, de certa forma até chegando a esperar certo conhecimento prévio do espectador sobre o contexto da história retratada. Algo que combina com o tom geral da história, que prioriza sempre a sutileza em detrimento da ação. Em contrapartida, a simbologia em excesso e a falta de um foco específico dificultam uma ponte de entrada com os personagens.      

O elenco parece estar em sintonia com a proposta geral, empregando composições que combinam com a atmosfera criada pela realizadora, especialmente Demian Hernández (Sofía), mas também Matías Oviedo (Ignacio), Antar Machado (Lucas) Antonia Zegers (Eena).   

A propósito das camadas e subtextos mencionados no primeiro parágrafo, o filme busca estabelecer paralelos com a própria história chilena recente, o que é feito de modo curioso e inventivo. Assim, os dilemas e conflitos comumente vividos na transição da adolescência para a vida adulta surgem aqui como metáfora de um país que, após dezessete anos de ditadura, precisava decidir – ou, antes que isso, descobrir – o que seria dele dali em diante.

Já os problemas de Tarde para Morrer Jovem se concentram em seu ritmo, por vezes lento demais e beirando o tedioso, e o pouco desenvolvimento de suas temáticas, seja a transição de fases da vida, seja a situação política do Chile, seja a comparação entre esses dois elementos. Isso faz com que a obra tenha o gosto de um ensaio que nunca se transforma em espetáculo.

Com belos quadros, atuações eficazes e ambição narrativa, a obra de Castillo tem como maior mérito pegar uma trama já explorada inúmeras vezes (o rito de passagem de adolescente para adulto) e utilizá-lo como comentário de um período histórico, ainda que faça isso de modo tão sutil que seja justamente a sutileza em demasia que acabe por se tornar sua maior fraqueza.