Crítica | Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls) [2016]

“Histórias são animais selvagens…se você deixá-los soltos, quem sabe o estrago que eles podem causar.”

O Monstro

Nota do filme:

Sete Minutos Depois da Meia-Noite segue Conor O’Malley (Lewis MacDougall), rapaz de treze anos, fruto de um casal divorciado. Em uma idade tão jovem, deve lidar com a doença terminal de sua Mãe (Felicity Jones) ao mesmo tempo que navega por uma escola que lhe parece desinteressante. Tudo muda quando, no começo da madrugada, um Monstro (Liam Neeson) surge à sua porta, com a promessa de que, após contar três histórias ao garoto, ele lhe contará a quarta, um conto tão verdadeiro que o protagonista sequer consegue mencionar.

Transpor o luto e sensação de perda a uma audiência mais jovem não pode ser uma tarefa fácil. Aqui, J.A. Bayona, mais conhecido pelo seu trabalho n’O Orfanato, adapta o livro de Patrick Ness e é extremamente bem sucedido em sua empreitada. Em momento algum se acredita que Bayona tenha buscado replicar a obra-prima de Guilhermo del Toro, todavia, dada as similaridades das premissas, comparações serão inevitáveis, de modo que já se adianta que o longa consegue sair da sombra de O Labirinto do Fauno e se manter de pé como outra ótima utilização da fantasia como escapismo de duras realidades.

Sete Minutos Depois da Meia-Noite se utiliza de incríveis visuais para imergir o espectador em sua narrativa, especialmente quando se trata dos contos trazidos pelo Monstro que dá título ao filme – ao menos no original. Aqui, utiliza-se de uma animação em estilo aquarela, aumentando a sensação de “faz de conta” das histórias, ao mesmo tempo em que reforça o caráter artístico da Mãe de Conor. Fosse apenas aparência, contudo, a obra não se sustentaria. Felizmente, há substância no roteiro.

Isto porque as histórias contadas trazem, em seu cerne, aprendizados ao protagonista. Questões simples e óbvias à audiência mais velha, talvez, mas não aos mais jovens, que parecem, justamente, ser o público-alvo. Não à toa seus pais e avó sequer possuem nome creditado, justamente pela narrativa se passar por uma lente infantil – o que complementa a frase que dá início ao filme: um garoto, muito velho para ser uma criança…muito jovem para ser um homem.

Existe uma clara falta de complexidade em como Conor vê o mundo, à espera de algo clássico como “mocinho e vilão”, o que não se sustenta em um mundo tão cinzento quanto o nosso. Nesse sentido, a sua expectativa por punição sempre que comete erros reflete essa crença, afinal, não consegue perceber que, como o longa deixa claro, não há qualquer motivo para tal.

Ao mesmo tempo, Patrick Ness – também responsável pelo roteiro – adiciona profundidade aos familiares do personagem. Há algo de autêntico em como a relação de Conor e seu Pai (Toby Kebbell) é retratada. Não se trata de alguém amargurado que abandonou uma esposa doente por outra mulher além do continente, mas um homem que reconhece que sempre amará a sua ex-esposa mas que, às vezes, amor não é o bastante. A Avó (Sigourney Weaver) passa pelas mesmas questões que o neto, apenas com mais bagagem e controle emocional, de modo que tem um paralelo interessante a ser traçado entre os dois.

Nessa seara, todos esses pontos são conectados por, talvez, a maior surpresa de Sete Minutos Depois da Meia-Noite: Lewis MacDougall. Em seu segundo papel como ator profissional – primeiro, se, como sociedade, fingirmos que Peter Pan (2015) nunca existiu –, impressiona pela carga emocional que consegue trazer ao personagem, em especial pela pouca idade. Cita-se, ainda, a ótima dublagem de Liam Neeson, que perpassa uma autenticidade invejável ao Monstro.

Dessa forma, Sete Minutos Depois da Meia-Noite se mostra um filme tocante e sensível, comandado por um jovem e talentoso diretor por trás das câmeras e por um (mais) jovem e talentoso ator à frente das câmeras. Por mais simples que seja o seu núcleo, consegue se utilizar dele para contar uma difícil história de perda, luto e aceitação, situações para as quais nunca estamos, de fato, preparados.