Crítica | 7 Dias em Entebbe (Entebbe) [2018]

Imagem: Diamond Films / Divulgação

José Padilha é um diretor que tem mão boa para ação, principalmente a ação política, sempre mais complexa do que parece. Assim como Kateryn Bigelow (De “Detroit” e “Guerra ao Terror”), Padilha tem mais facilidade em dirigir filmes com personagens multifacetados, linhas temporais múltiplas e tensão o tempo inteiro, do que assumir o comando em obras simples.

É notável, por exemplo, a diferença clara de qualidade entre “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” para o remake de “Robocop”. Se nos filmes “Tropa” a complexidade temática e estrutural está em toda projeção, em “Robocop”, a nostalgia é mais presente do que o sucesso na ideia.

Felizmente, em “Sete Dias em Entebbe”, Padilha faz o que ele sabe fazer de melhor, simplificar assuntos complexos, exibir linhas temporais variadas e se aprofundar em diversos pontos de vista, ser ousado tematicamente e estruturalmente, e, claro, não esquecendo da ação, tanto a ação por si só, quanto a ação política.

A história parte do sequestro realizado por um grupo revolucionário alemão, que aprisionou um avião da Air France com passageiros e tripulação. O voo ia de Tel Aviv a Paris, porém, devido ao sequestro, pousou em Uganda. O objetivo dos sequestradores era manter os passageiros israelenses como reféns, para conseguir o início de um diálogo com Israel e nessa negociação, exigir a soltura de membros do grupo.

Porém, o filme apenas usa esse sequestro como ponto de partida para algo muito maior e complexo, vemos como os interesses políticos e a busca pelo comando da ideologia dominante é de fato o que manda, logo, acompanhamos quatro pontos de vista distintos: o dos políticos, representados pelo Primeiro Ministro de Israel e seu Ministro de Defesa, o do exercito israelense, acompanhando um soldado e seu relacionamento com a namorada e o trabalho, o dos sequestradores no momento do sequestro e na manutenção constante dessa prática e o dos mesmos sequestradores, só que no passado, enquanto estes decidiam o que fazer antes da história principal começar.

Fotograficamente falando, a qualidade do ótimo Lula Carvalho é mantida, sempre investindo em tons de luz que se adequem as cenas, independente do contexto destas. Por exemplo, as cenas no aeroporto são sempre com uma luz forte, indicando um calor dentro do local onde se passam os fatos, as cenas no passado são com cores frias, pela indecisão do grupo, as cenas onde os políticos estão, oscilam entre a frieza e o calor, frieza pela personalidade das pessoas ali e calor quando algo bom para eles acontece.

Graças a montagem (do acima da média Daniel Rezende, diretor de Bingo), a obra vai de uma história para a outra com fluidez e dinamismo, sem confundir o público em suas cenas e linhas temporais, usando como ferramentas não apenas os tradicionais flashbacks, mas também os flashforwards, como por exemplo nas cenas da dança da namorada do soldado ou, no corte de cabelo de Rosamund Pike – excelente na criação da complexidade e pragmatismo culpado de sua personagem, prestem atenção na cena do telefone público – e na questão “Passado – presente” devido ao ponto de vista variado dos sequestradores.

E é devido a essa montagem que é possível percebermos o aprofundamento dado na trama, vemos que os sequestradores são pessoas idealistas (especialmente o personagem de Daniel Bruhl) e essas pessoas, mesmo não fazendo isso de forma proposital, são apenas o tipo de gente que políticos como o Ministro da Defesa de Israel – interpretado por Eddie Marsan – desejam lidar, já que a guerra em questão, só existe porque é levada a avançar graças a pessoas como esse personagem, que nunca deseja negociar e o sorriso deste para o Primeiro Ministro, ao ver que tudo aquilo idealizado por ele em sua função de Defesa ganhou daquilo pensado pelo líder máximo do país, representa não a felicidade pelo sucesso de uma ação, mas o sentimento de egoísmo por perceber que tem (ou, no caso, teve) razão.

Porque enquanto houver lucro com as guerras, qualquer uma, ela ainda vai continuar acontecendo e sendo estimulada. É justamente isso que o filme de Padilha mostra tão bem, graças a esse equilíbrio estrutural, além disso, é notável como a obra expõe que ninguém está certo, os sequestradores estão errados pelo crime cometido, os governantes errados por não buscarem uma negociação e por incentivarem a prática da guerra e o soldado por escolher entre a guerra ao invés do amor, no caso, o de sua namorada bailarina.

São as cenas desse soldado as responsáveis pelo equilíbrio temático do filme, e é graças a cena da dança da bailarina, que temos uma cena lindíssima, guerra alternada com arte, onde a violência é substituída pela queda proposital de uma dançarina em um palco de teatro e a substituição serve para expor como a violência é errada.

Queda essa que, além de ter como objetivo revelar o ponto de vista acima, serve também como metáfora para o sistema, um circulo de pessoas fica em pé, a “menor” delas cai, demora a se levantar e ainda assim o faz, mesmo sem contar com nenhuma ajuda. Ao se levantar, um ato de protesto é feito, já que ela sabe que vai cair de novo, porém, se continuar levantando, continuará levando esperança para aqueles outros que caíram. E a esperança de se levantar repetidas vezes é de uma coragem absurda.

“Sete dias em Entebbe” é muito mais do que apenas sete dias, é toda uma vida representada de maneira dura em apenas uma hora e quarenta e sete minutos de projeção.