Crítica | Satânico (Satanic) [2016]

Nota do Filme:

O clássico, aflorado e já tão batido lado satânico do cinema de horror volta com a qualidade de um filme adolescente. Garantia de superficialidade, Satânico é uma obra bem produzida ao ponto de ignorar falhas na história e se desculpar usando boas cenas chocantes (que sem sentido, murcham). O modelo de Satânico não chega a ser completamente previsível desde o princípio. A falta de inovação dentro de uma abordagem mais moderna do satânico e do profano rendem ao filme uma válvula de escape constante para o erro. Contudo, acumular tanto dos mesmos erros compromete o filme a partir de seu segundo ato.

Uma parte mal explorada do longa acontece já nas cenas que estreitam o relacionamento dos personagens. Dar fidelidade ao grupo e ao que previsivelmente ocorrerá a ele não só é vital, mas garante a aproximação do público de uma história fraca, mas que ameaça um parentesco de personagem que a laçou em empatia. O princípio do horror menos sublime que desenvolve personagens rapidamente não é o de dar a eles diálogos marcantes ou complexas personalidades que não cabem na tela, mas fazê-las representar um bastião na história, uma identificação direta com o público. Parte disso serve para o seu sustento e seu próprio comprometimento dentro da narrativa. Melhor do que ver personagens carismáticos

Galgado na progressão do que acontece ao núcleo de personagens já bem pequeno, o filme deixa claro demais a falta de conteúdo para preencher o vazio dessa pressa a partir de sua metade. A direção injeta no roteiro ângulos de câmera injustificados, atuações que questionam mais do que compreendem alguma emoção e eventualidades bobas de um spooky que não assustaria uma criança, quem dera a traumatizasse como parece ser a intenção aqui. O horror falho é sem dúvida alguma o clarão que cega toda a potencial força que o roteiro poderia ter aliado com sua boa produção. Com a ambientação urbana, movimentada e quase nunca isolada para o clássico terror de suspense dentro de interiores, o longa aposta no medo da condenação mais do que em assustar o espectador com o desconhecido. O mesmo desconhecido, envolto em mistério e superficialidade das revelações do roteiro, como em The Void, de 2016, não chega a se aproximar do desejado aqui. O maior problema de Satânico é se apresentar como misterioso, mas não dar corda nisso. Conforta-se durante toda a sua metragem nas mesmas cenas clichês e insossas de filmes com essa roupagem. A imersão na escuridão que o roteiro busca é uma porta de credibilidade trancada para os espectadores.

Satânico consegue marcar pontos valiosos na iluminação e locações promissoras. Os cenários e a atmosfera a eles dedicada invoca uma presença única de um personagem omisso e vigilante. A frenética corrida pela sobrevivência desenrolada no filme descansa em um final bastante intrigante. Se há uma boa concepção para o filme, seria a feita quando ele fosse amistosamente visto por qualquer um com os eventos de trás para frente. Ato após ato, o grito de uma renovação no tema tão profano e escuro do cinema de horror escapa somente por estes cenários. Relevando toda a sua grosseira futilidade, há no longa a melhor tela afogada na pior pintura.