Crítica | Re:Mind (2017)

Nota do Filme:

Com uma rentabilidade considerável, o mistério de Re:Mind estreia com a solução confusa e agradável que mistura suspense, mistério e o típico ”dorama”. Doze atrizes, uma grande mesa disposta para o jantar, candelabros e muitos, muitos itens para serem observados dentro da lustrosa sala vitoriana. Com uma premissa confessa logo de cara de diluir respostas para o mistério inicial, é ainda saber o que cada personagem esconde o que mais prende o espectador ao próximo episódio. O desaparecimento de uma garota, barulhos estranhos, relógios soando a cada hora e uma grande mistura de suspeitas coincidências titulam a série japonesa como uma produção ousada, mas superficial. E os motivos para isso são muitos.

Narrativa e série seguem uma estrutura engessada e prolongada para o número de episódios. Ainda que a duração de cada um e a maneira como acontecem seja talvez o espinho no sapato dos consumidores críticos de Re:Mind, é provavelmente no desgaste desse modelo que a frustração acontece. Não demora para que apreensão, indagação e talvez até medo se tornem injeções bobas para que o salto para o próximo episódio aconteça. Essa medida estrutural compromete um aprofundamento em cada uma das histórias destrinchada pelas investigadoras: as próprias prisioneiras. Ninguém é inocente, convicto ou preciso. Todas, de alguma forma minuciosa, cometeram uma terrível contribuição para uma fatalidade conhecida apenas pelo seu sequestrador.

A característica feitura oriental transborda da produção. Tendo seu aspecto de neutralidade completamente comprometido pelo modismo japonês, falas, expressões e trejeitos são totalmente localizados sem qualquer preocupação maior com o consumidor externo. O que seria o possível peso comprometedor, se torna o que há de mais original na série. A ambientação escolar nos flashbacks e as histórias paralelas que não contribuem para a ”contação” de segredos que eventualmente acontece funcionam na atmosfera criada para o Japão moderno.

A divisão clara de gostos é ignorada pela produção. O drama juvenil barato se mistura no meio com um drama denso e ramificado que só dá nós e mais nós nas personagens e nos que tentam solucionar o acontecido do outro lado da tela. O sequestro das doze garotas e a introdução de figuras sempre relutantes em falar o que acham de tudo aquilo só aponta que todas guardam alguma nova informação que pode, na vista das outras, salvar a todas daquele lugar bizarro. É com as intrigas na mesa e os desaparecimentos inevitáveis de cada uma que a série conquista o espaço confortável ao lado de quem admira um bom exagero com uma ousada explicação final. O problema aqui é que a solução de tudo é direta, opcional e misturada a diversas outras que não se explicam. A impressão que a finalização da trama passa é a de que aquela conclusão foi escolhida entre quatro outras que poderiam ter tomado o seu lugar sem qualquer dano ao roteiro desenvolvido ali.

A partir da metade do que é contado galgado no prolongado mistério, a trama se mostra cada vez mais conotativa e cada vez menos sem propósito. As doze histórias logo podem ser resumidas, mas há no drama expresso fisicamente em cada personagem e na relutância entre uma frase e outra uma encheção de linguiça que só se torna mais clara quando o espectador alcança o território conclusivo de Re:Mind. As recordações, mudanças no ambiente e revelações que se destacam do comodismo juvenil da maioria ainda são a salvação da obra. Términos de namoro mal-resolvidos, traições em uma amizade e injustiças cometidas se confundem com a seriedade de assassinato e prostituição. É impossível saber o que guarda em segredo o próximo personagem a ter sua história ouvida e, antes e depois disso, questionada.

Som é talvez o que haja de melhor na produção. A trilha sonora original é impecável na junção com a maioria dos diálogos e transições. É praticamente impossível deixar de notar que a edição, embora comprometida com algumas decisões de montagem para o roteiro, tente comprometer também as trilhas diluídas nas cenas. Embora colocadas artificialmente por cima da maior parte das resoluções, a mistura natural transforma a ambientação em algo surreal, dando crédito total ao que é contado. Como nada é exatamente orquestrado, têm-se no meio de uma trilha um grito ou uma mudança de humor perceptível na tela que não afeta a musicalidade do lado de fora. Sendo assim, não é de se esperar que a trilha vagarosa e medonha mude sua tonalidade graças ao grito de uma personagem ou a quebra súbita de uma porcelana na parede. O silêncio muitas vezes substitui o próprio suspense aqui.

A série garante um rendimento satisfatório para quem ama uma boa enrolação de um mistério. Embora seja respondida com uma lentidão absurda para a duração e número de partes, a trama de Re:Mind pareia com uma simplicidade grandiosa e uma direção artística impressionante. Contudo, na edição e no próprio roteiro, numerosos buracos pequenos jogam a qualidade final para baixo com uma força impossível de não ser notada. Acabamos com uma história desregulada, bem vestida e não tão inovadora quanto se imagina quando começa a ser contada. A série dá o que promete, mas não impressiona com o que esconde por debaixo da mesa. Salvo os momentos perturbadores e a natureza sombria de algumas cenas que pegam de surpresa até o mais atento, não há no resto o que satisfaça com rigor.