Crítica | Rashomon (Rashômon) [1950]

Imagem: Divulgação

Se o cinema teve um diretor capaz de criar histórias usando múltiplos pontos de vista, esse era Akira Kurosawa, que conseguia transformar uma história aparentemente boba de samurais, em uma trama complexa, cheia de nuances e mudanças no decorrer do filme.

“Rashomon” é um desses exemplos, a obra conta a história de um assassinato não solucionado de um samurai, para a investigação, duas pessoas que passaram pela cena do crime foram chamadas para depor, além da mulher do falecido e do espirito do falecido através de um médium. A história é contada pelas duas testemunhas da cena do crime para um transeunte que assim como os dois, se protege da chuva em uma casa abandonada.

O filme é rico em expor esses pontos de vista distintos e pessoais de maneira quase igual, dando o mesmo tempo para um e para outro exporem as suas versões da história e facilitando para o público criar o seu próprio parecer sobre os fatos ocorridos, embasando a opinião em cima desses pontos.

Logo, a grande qualidade do filme é sem dúvida a montagem, por ter uma hora e vinte e oito minutos de duração, ou seja, é um filme curto, estruturar pontos de vista diferentes que durem mais ou menos o mesmo tempo é algo que merece destaque. Isso é feito através de cortes secos inteligentes, usando a noção de campo do local onde ocorre a cena, para criar profundidade, uma luta nunca é mostrada de forma igual, mesmo que a luta seja a mesma em duas cenas, porque o espaço e a profundidade deste é muito bem aproveitada.

Se o espaço é bem aproveitado, o elenco também é, principalmente Takashi Shimura e Toshiro Mifune, que constroem muito bem seus personagens independente do ponto de vista pelo qual a história é contada, no caso de Mifune, que participa de mais de um viés, é notável como o bandido interpretado por ele nunca parece ter as mesmas motivações, cada um que conta o fato muda a ideologia dele e o ator consegue expor essas ideias muito bem.

A fotografia em preto e branco faz um ótimo uso da luz natural, aproveitando a profundidade utilizada pelos movimentos de câmera, como a maioria das cenas se passam ao ar livre, a iluminação do filme compõe os mais variados ambientes e cria belos quadros, principalmente aqueles que envolvem o personagem de Mifune enquanto ele está com as vítimas (sim, “as”, porém, é necessário assistir a obra).

Portanto, Akira Kurosawa consegue criar um universo de possibilidades partindo da montagem, das boas atuações de seu elenco e da capacidade de colocar pontos de vista diferentes em um mesmo filme, é isso que torna “Rashomon”, uma das grandes obras primas do cinema.