Crítica | Querido Evan Hansen (Dear Evan Hansen) [2021]

Nota do filme:

Adaptação para o cinema do musical homônimo da Broadway escrito pela dupla de compositores Benj Pasek e Justin Paul, Querido Evan Hansen trata de ansiedade, perda, aceitação e solidão em um único filme repleto de canções. Stephen Chbosky dirige a versão cinematográfica sem fugir das músicas utilizadas para contar a história de Evan Hansen (Ben Platt), um aluno do último ano do ensino médio com transtorno de ansiedade social e muita dificuldade em se relacionar com as pessoas.

Evan tem apenas um amigo, Jared (Nik Dodani), que funciona como alívio cômico nas poucas cenas em que há comédia no longa. Mas, a diretriz da trama gira em torno do relacionamento entre o protagonista e a família Murphy após um envolvimento ao acaso. O filho mais velho dessa família, Connor (Colton Ryan), comete suicídio e de uma forma inesperada, seus pais acreditam que ele e Evan eram próximos. Este termina fazendo parte do mal-entendido, o qual ganha enormes proporções, e fica sem saber lidar com o fato.

É certo que Evan se aproxima da família após um equívoco que não deu causa, mas também, ele não esclareceu o engano quando teve oportunidade. É difícil julgar o comportamento do jovem diante da dimensão que o fato alcança, porque, mesmo de forma mesquinha, com a farsa criada ele foi capaz de dar apoio a quem estava precisando. Ademais, é quando esse relacionamento se aprofunda, que ele começa a entender verdadeiramente o que significa pertencer.

A jornada de autodescoberta e aceitação do protagonista cruza-se com a sua aproximação à família do colega falecido. De forma que o adolescente se vê pela primeira vez como sempre quis, mesmo que tudo construído com base na mentira. Além de sofrer com a ansiedade e a dificuldade de conectar-se com outras pessoas, o convívio com a mãe, Heidi (Julianne Moore), é precário, ela não consegue dar a atenção que o filho precisa, porque trabalha muito para dar conta de sustentar os dois, já que o pai dele não faz parte da vida deles há anos.

À medida que a narrativa avança, o personagem de Jared torna-se cada vez mais ausente e a comicidade cede espaço à emoção e sensibilidade. Os personagens adolescentes não convencem pela idade, os atores parecem velhos demais para os papéis juvenis, mas as características na vida escolar soam mais reais e plausíveis do que nos filmes de adolescentes de modo geral, algo que lembra o tocante e belo Com Amor, Simon (Greg Berlanti, 2018).

As atuações são competentes, com parte dos atores interpretando os mesmos papéis que fizeram no Teatro. Julianne Moore nunca desaponta e apesar de pouco de tempo de tela, rouba a cena e deixa até mesmo Amy Adams invisível ao lado dela. O longa promete uma catarse, com a descoberta da mentira podendo ocorrer a qualquer tempo e, para não entregar muito da obra, resta dizer que o desfecho não decepciona, mas também não traz um grande momento de revelação.

Como se trata de um musical, a produção conta com muitas canções interpretadas pelos atores, que em alguns momentos desenvolve-se de maneira orgânica, mas, em outros, a cantoria gera cenas forçadas. O filme é carregado de sensibilidade e trata do luto, da solidão e da necessidade de pertencimento. Tudo de forma conectada com as mídias sociais, o que torna a trama realista e atual. Despindo-se do preconceito que há contra o estilo, o espectador que se aventurar a conhecer a crônica de Evan Hansen no cinema deve se preparar para se comover com a história.

Querido Evan Hansen estreia em 11 de novembro somente nos cinemas.

Direção: Stephen Chbosky | Roteiro: Steven Levenson | Ano: 2021 | Duração: 137 minutos | Elenco: Ben Platt, Julianne Moore, Kaitlyn Dever, Amy Adams, Daniel Pino, Amandla Stenberg, Colton Ryan, Nik Dodani, DeMarius Copes, Kiz Kate, Zoey Luna, Isaac Powell, Marvin Leon.