Crítica | Próxima Parada: Apocalipse (How it Ends) [2018]

Nota do Filme:

Um eufórico novo filme dentro do nicho apocalíptico (que por parentesco também jogamos dentro do filo dos desastres naturais) Próxima Parada: Apocalipse estreia com a premissa de diferenciar-se em papéis, fundamentos e uma jornada única e diferenciada pelas estradas assombradas por uma tragédia misteriosa que parece afetar o mundo. Buscando focar no esforço de um grupo em resgatar a jovem Samantha (Kat Graham) em outra cidade durante o início do caos, Will (Theo James), Tom (Forest Whitaker) e Ricki (Grace Dove), desafiam o perigo humano e os perigos antigos e novos da estrada para sobreviverem na tentativa de mais um dia dentro do aparente novo e definitivo mundo.

Sob a ótica de um filme centrado na estrada e no progresso, o longa ordena toda a sua narrativa em dias e situações muito fechadas, embora repetitivas, que criam os desafios a serem resolvidos. Com alguns dias se baseando em juntar suprimentos e continuar a viagem e outros em matar para se defender, a aleatoriedade e a surpresa dos encontros causam o ar realista necessário em obras assim, mas não adicionam em nada no que a história tenta provar em sua conclusão mais adiante. A ambientação, como a trilha sonora, se estagna entre o razoável e o medíocre, pontos que não deveriam falhar especificamente em obras como essa, que quase sempre tentam se provar com o que o som e a voz contam. E se para o bem ou para o mal, a forma como acidentes acontecem no longa é impressionante e inacreditável (partindo do incrédulo do espectador). O porquê e a adição do que se vê na tela para a história é quase sempre desnecessária. Um injustificável de explosões e capotamentos na estrada que tentam projetar o filme para uma ação que não precisaria existir na maioria das chances.

Próxima Parada: Apocalipse ganha no mérito de pisar em uma nova área do storytelling de causalidades como essa. Ainda que de uma origem misteriosa, a série de desastres não protagoniza em nenhum momento a grande figura da história. Há no roteiro uma lateralidade aglutinada que sempre foge de onde a confusão está e trabalha com rastros, destroços e consequências no geral. Ninguém enfrenta o olho de um furacão ou corre da lava de um vulcão em erupção. Rosenthal trabalha com a percepção do isolamento que só o caráter de road-movie é capaz de trazer para acompanhar o quão silenciosa é a vida chegando ao seu fim, de todas as direções.

Para manter as coisas interessantes, o filme lança vários elementos de ficção-científica e desastres naturais ao longo do caminho para quebrar o tédio entre as três pessoas no carro, como a viagem de Chicago a Seattle é capaz de criar. Há uma tempestade elétrica violenta. Uma estação de rádio operando com energia do gerador informa a todos que estão ouvindo o óbvio: não há internet nem serviço de celular. As paradas ao longo do caminho (porque não seria uma viagem sem pontos intermediários) incluem um velho amigo de Will, um parque aquático abandonado, o local de um descarrilamento de trem e a casa do protagonista. Não bastasse essas prudentes seleções de locais para visitação em obras apocalípticas, a reflexão e o drama pouco são trabalhados aqui como deveriam. Existe uma sobra suja de diálogos e propósitos mal resolvidos em cada cena que só deixam seu odor subir quando os créditos sobem e o espectador se pergunta aonde foi parar com tudo aquilo. Além disso, há desculpas para cenas orientadas para a ação, como perseguições de carro e tiroteios. Tudo à base de injeções pontuais para manter o público acordado junto ao elenco.

Conscientes da necessidade de ter um nome conhecido ou dois na lista de créditos, especialmente com o diretor quase desconhecido como David Rosenthal no comando, os produtores contrataram Forest Whitaker e Theo James. Ambos os atores pegaram seus cheques, telefonaram e se apresentaram, o que fica bastante evidente na forçação visual com que carregam suas atuações. Theo em particular não consegue se livrar do olhar de tédio. O único com qualquer coisa parecida com a faísca da morbidez não justificada é Grace Dove. Embora o encaminhamento para a conclusão os renove com alguma personalidade redescoberta e uma afirmação do que deverão ser dali em diante, ainda soa artificial a maneira rápida e sem tempo a perder com que acontece. Não se trata de uma obra que faz pausas com muito propósito além da obstrução do tédio de tomar a estrada.

Os últimos quinze minutos parecem forçados. Quase tudo sobre eles está “desligado” — da forma como os personagens interagem, a rigidez da atuação e até mesmo a cadência do diálogo. Talvez essa tenha sido uma intenção estilística — uma maneira de destacar a portentosidade das cenas, mas não funciona. Então, finalmente, chegamos ao final e quanto menos falamos sobre isso, melhor. A abertura da cena final fala de um roteirista que, incapaz de descobrir uma maneira incisiva e satisfatória de concluir as coisas, simplesmente desistiu e parou. São apresentados problemas, personagens e situações em pouquíssimo tempo que desenvolvem um conflito inchado e que quase estraga o filme caso não se resolvesse com a mesma imprudência que começa. Tentando timidamente seguir o diferente, Próxima Parada: Apocalipse acaba não resolvendo os próprios problemas narrativos e se engasga ao tentar contar uma história dramática falha, preguiçosa e sem qualquer credibilidade, aproximando-se do absurdo de sua própria catástrofe retratada.