Crítica | Praia do Futuro (2014)

Karim Ainouz é um diretor de um cinema sensível e atual, sempre sabendo como tratar questões sociais usando a técnica cinematográfica com um domínio incrível e estruturando bem seus filmes, de forma que eles durem o tempo certo, fechando os arcos criados nas obras.

“Praia do Futuro” é mais um desses exemplos, dessa vez, acompanhamos a história de Donato (interpretado por Wagner Moura), salva-vidas na Praia do Futuro em Fortaleza, ele se envolve com Konrad, que salvou de um afogamento. Donato também cria o irmão Ayrton, que após ver o irmão mais velho e figura paterna abandona-lo, muda de vida completamente.

O filme é estruturado em três capítulos, cada um deles com um personagem central diferente, expondo as complexidades deles e os motivos que os levam a tomar certas atitudes. Assim, por se dividir dessa forma, a obra não tem um protagonista, um ponto central de apoio, mas tem três, igualmente importantes para a efetividade do roteiro.

Logo, por ser feito em torno de três personagens diferentes, para a obra funcionar é necessário que o elenco seja competente, pois é a partir deles que a história acontece, Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa cumprem bem os respectivos papéis, adicionando ao roteiro a sensibilidade tradicional de um diretor como Ainouz.

Moura consegue passar todas as dúvidas e medos dele apenas com um olhar, esse traduzido nas falas do personagem, que sempre colocam um ponto a mais para o espectador pensar, ou seja, quanto mais o tempo passa, mais o personagem e o relacionamento com Konrad vai ficando mais complexo.

Konrad, interpretado por Clemens Schick, assume bem o papel de receptor das complexidades do personagem de Wagner Moura, porém mais do que isso, ele é um dos causadores da confusão de Donato, não por causa do relacionamento – na verdade, o amor entre os dois é a única coisa que Donato não trata como complexa – mas pelas escolhas que Konrad leva o brasileiro a realizar, essas botam em xeque o futuro familiar deste.

É aí que Ayrton, representado por Jesuíta Barbosa, entra na história de fato, pois é ele que serve como ponto de partida para o fechamento do arco de Donato, apenas pelo fato de serem irmãos. No terceiro ato – onde ele aparece por mais tempo – é onde estão as melhores cenas do filme, pois as relações familiares abandonadas em determinado momento por Donato, reaparecem com muito mais força e peso dramático quando o irmão mais novo volta a participar da vida dele e de Konrad.

Assim, “Praia do Futuro” é um filme que trata de presente, passado e futuro, usando três personagens distintos, porém ligados, que não funcionariam um sem o outro e que servem como pontos de estruturação na parte técnica. A sensibilidade da direção de Karim Ainouz é apenas um ponto de equilíbrio entre a arte e o sentimento.