Crítica | Poderia me Perdoar? (Can You Ever Forgive Me?) [2018]

Nota do filme:

Poderia me Perdoar? conta a história de Lee Israel (Melissa McCarthy), talentosa escritora que, em dificuldades financeiras, descobre existir um mercado lucrativo na venda de cartas de figuras, já falecidas, do mundo literário. Com o auxílio de seu único amigo, Jack Hock (Richard E. Grant), passa a forjá-las e, assim, acaba entrando no radar do FBI.

Baseado em uma história real, o longa encapsula com maestria o desespero de uma mulher que, a despeito de seu talento, sente-se deslocada e insatisfeita, devido à sua dificuldade em permanecer relevante no mundo autoral. Isto porque sua escrita sempre tem como foco terceiros ao mesmo tempo em que a autora evita aparições públicas para divulgação de seu material, biografias de pessoas famosas. Ademais, a sua personalidade intragável tem um grande papel nessa questão, visto que não consegue manter relações com facilidade. Há ainda outros aspectos, contudo, cabe à audiência o trabalho de preencher as lacunas o que, destaca-se, não é difícil.

Poderia me Perdoar? é uma história simples, mas que se aproveita de suas poucas reviravoltas para divertir e, por vezes, emocionar o espectador. A veracidade dos fatos narrados apenas eleva a qualidade do texto. Isto porque, ao focar na relação – ou falta de – da protagonista com aqueles ao seu redor, é impossível não simpatizar com a sua situação. Não se sabe, entretanto, se a fachada dura que tem é decorrente da constante rejeição, ou o contrário. Ainda, a necessidade de estabilidade financeira provê a força necessária para que descubra uma vocação que, apesar de ilegal, faz com que se sinta realizada e, ainda, um tanto quanto orgulhosa, o que claramente não acontecia havia muito tempo.

De qualquer forma, o tom funciona muito em função da atriz principal. Melissa McCarthy, mais conhecida por seus papéis cômicos – As Bem-Armadas e Missão Madrinha de Casamento – consegue, com facilidade, transmitir à audiência uma ampla gama de emoções apenas com expressões faciais. Pode-se dizer que traça um caminho interessante na sua carreira, diversificando o seu campo de atuação para uma área mais dramática. Destacam-se aqui a cena em que Jack a leva para comemorar o seu sucesso no ramo, em que se percebe a alegria contida em simplesmente escapar um pouco de sua rotina e também a cena na qual recebe convidados em casa, momento em que a vergonha pelo estado de seu lar torna-se tão evidente que é impossível não se compadecer com a personagem. Assim, o espectador nota que, ainda que realizada com o seu trabalho, permanece, mesmo que de maneira sutil, um sentimento de desgosto autodepreciativo.

Ao mesmo tempo, Richard E. Grant consegue roubar a cena. Sua excelente química com a protagonista torna as suas interações o ponto forte do longa, e a personalidade de seu personagem é sempre um frescor. Tratam-se de duas performances excepcionais que fizeram por merecer as indicações de Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante.

Contudo, há pequenos erros no decorrer da narrativa. Problemas no que diz respeito ao ritmo, que por vezes carece da urgência necessária. Nenhum, porém, prejudica a obra de maneira irreparável.

Sendo assim, Poderia me Perdoar? é um filme extremamente competente. Seu roteiro simples se aproveita da veracidade daquilo narrado e se aprofunda no drama da protagonista. Nesse sentido, a própria redação de correspondências que não suas possui um contexto lógico interessante, uma vez que serve como reflexo da sua vida profissional. Ao mesmo tempo, o tom se mantém leve, visto que, por vezes, a história é retratada de uma forma cômica. Por fim, as ótimas performances de Melissa McCarthy e Richard E. Grant elevam a obra, de modo a tornar o longa ótimo, do início ao fim.