Crítica | O Rei (The King) [2019]

Nota do filme:

Filmes que se passam na época da idade média são sempre desafiadores. Desde aos mais tradicionais que trabalham com bastante afinco na ambientação e na coreografia de batalhas colossais até os pouco usuais que tentam furar a bolha do convencional ou apostar em tramas políticas, e, ainda, há aqueles que conseguem unir as guerras com as intrigas, mas para isso é necessária competência.

“Após a morte de seu pai, Henrique V (Timothée Chalamet) é coroado rei, obrigado a comandar a Inglaterra. O governante precisa amadurecer rapidamente para manter o país consideravelmente seguro durante a Guerra dos 100 Anos, contra a França.”

O Rei parece uma propaganda enganosa, pelo menos inicialmente, uma vez que a trama dá a entender que seria um filme calcado pelas batalhas que ocorreram no período que ambienta a narrativa, porém, rapidamente, o roteiro tenta, com pouco êxito, transitar entre as intrigas e as guerras, mas se distanciando bastante, o que, se o roteiro é bem escrito, é mais interessante que gigantescas coreografias de combate.

Contudo, o script, a espinha dorsal da película peca pelo excesso. Por utilizar uma linguagem prolixa demais para fins de ambientação se torna desinteressante, rebuscando diálogos simples em diversos momentos, além de não desenvolver os eventos que mostram a evolução dos personagens na trama, como se deixasse lacunas em branco para trás. Ainda, o texto utiliza muitas frases de efeito, além de apelar para um pieguismo interminável, destruindo qualquer chance de imersão na época.

Além disso, há um grande problema com a apresentação de personagens. A impressão é que eles são jogados na trama de qualquer maneira, o que dificulta a empatia do espectador com eles, dando a sensação de serem descartáveis. Por exemplo, o personagem de Robert Pattinson, uma espécie de antagonista, é introduzido tardiamente, sendo que ele era o elemento de conflito que faltava desde o início para a narrativa caminhar, já que a trama segue a jornada de Timothée Chalamet como rei da Inglaterra em meio à Guerra dos 100 Anos.

Mesmo assim, Timothée tenta e consegue executar uma ótima performance com o péssimo roteiro, mantendo uma postura altiva e dominante, dosando as suas emoções, pois demonstra a felicidade nos pequenos momentos, mas também como pode ser implacável, sem deixar de ser benevolente, provando novamente como é um excelente ator que surgiu nos últimos anos.

Com isso, a fotografia demonstra a evolução do protagonista de forma gradual, utilizando uma paleta de cores escuras, na qual há muitas sombras no começo do filme para demonstrar a apatia do personagem em relação ao trono e a preocupação do reino aguardando o estopim, até o azul escuro, que demonstra o estágio final de Timothée, que foi consumido pela melancolia do fardo de ser rei contra a sua vontade.

Entretanto, o grande destaque da produção vai para a trilha sonora composta por Nicholas Britell (Moonlight), que captura os elementos da música erudita antiga, transitando entre todos os cenários da narrativa, criando a tensão das batalhas, o peso da ascensão real ou as poucas celebrações que deixavam o clima leve, sem perder a essência da idade medieval.

Portanto, O Rei pode não ser um filme agradável a todos, servindo mais para demonstrar a versatilidade de Timothée Chalamet como ator, ao invés de se consolidar como um drama épico ou político de época.