Crítica | O que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?) [1962]

Imagem: Divulgação

No ano passado, uma das séries de televisão mais faladas foi “Feud – Bette and Joan”, que trata da filmagem da projeção onde as lendárias atrizes Bette Davis e Joan Crawford atuaram juntas. Com a carreira em baixa de Davis e Crawford (um dos principais motivos para aceitarem o trabalho juntas), a obra saiu do papel mesmo com a rusga existente e bem conhecida entre as duas.

O filme em questão foi “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” dirigido por Robert Aldrich, foi lançado em 1962, e conta a história das irmãs Jane e Blanche Hudson. Jane teve grande sucesso quando criança ao ser Baby Jane, uma garotinha que cantava e dançava em grandes teatros, já na fase adulta, ela foi esquecida e a bem-sucedida foi Blanche, até que após um acidente de carro, ela ficou paraplégica, dependente exclusivamente da irmã, sua carreira chegou ao fim e as duas moram juntas na casa de sua família, e é lá que Jane maltrata Blanche de todas as formas possíveis, a isolando e ainda mantendo o sonho do estrelato.

Esse sonho fica claro já pelo figurino que Jane (Davis) usa durante quase todo o filme, muito parecido com o vestido branco que utilizava em suas apresentações com o pai quando criança, e também pelo cabelo, o mesmo corte da época de sucesso. Por trás disso está uma pessoa má, invejosa em relação a irmã, e que desconta a sua falta de oportunidades na carreira adulta na única parente viva.

Apesar de ela tentar justificar suas maldades com uma suposta loucura e alcoolismo, tudo que é feito por ela é deliberado e pensado com antecedência, como por exemplo a cena do passarinho e a do rato, e também toda a questão financeira da casa e do dinheiro da irmã. O alcoolismo ela usa para esquecer a vida que leva e odeia, a loucura só vem após certos acontecimentos, mas uma sementinha desta sempre esteve presente, gerada pela saudade do sucesso, saudade do pai, carência de amigos e ódio da irmã.

Tudo isso é passado com uma maestria fora do comum por Bette Davis, que muda de voz tão fácil quanto bebe uma dose de gim na projeção, a raiva nela nunca é disfarçada nem por um momento, sabemos que odeia a irmã desde o primeiro minuto, no momento no qual ela leva pela primeira vez (no contexto do filme) o café da manhã.

Porém, se o ódio de Davis nunca é velado, o amor de Crawford no papel de Blanche também não, porque mesmo apesar de todo o sofrimento e inveja, ela ama a irmã, e demonstra isso ao tentar não machuca-la em relação ao assunto da casa, e também em relação ao alcoolismo, já que impede a irmã de comprar bebidas. O amor pela irmã está presente na voz de Blanche, pois mesmo com tudo o que acontece, ela fala com suavidade, esperança e amparo.

Aldrich consegue manter o suspense durante todo o filme, pois usa a câmera e os cortes para criar expectativa, assim sendo, quando Blanche tenta descer as escadas, por exemplo, a cena corta para o rosto de Crawford fazendo força para se levantar, depois corta para a escada – e a câmera está posicionada no fim desta, debaixo para cima, em contra plongeé, justamente para mostrar a dimensão dela para o público e para Blanche – para logo após, outro corte mostrar o esforço dela na cena, com a expectativa já criada, a trilha sonora musical sobe e assim, uma atmosfera de apreensão se confirma.

Outras construções similares de cena podem ser vistas em todo o filme, porém, o que mais chama a atenção são as atuações de Davis e Crawford, ver duas das maiores atrizes contracenando é de encher os olhos, e é de uma elegância absurda perceber como as duas são de estilos completamente opostos de atuação, porém igualmente efetivos.

Portanto, “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é um filme de boa direção, mantenedor do suspense durante todo o tempo, e conta com duas atuações belíssimas de atrizes que fizeram história na sétima arte.