Nota do Filme :
Em pouco menos de 5 anos, Damien Chazelle assinou filmes maravilhosos. São eles: Whiplash e La La Land. Este último, inclusive, lhe rendendo a estatueta de melhor direção na 89ª edição do Oscar. Além disso, Chazelle é considerado por muitos críticos como um dos melhores de sua geração.
Em 2018, ao meu ver, Chazelle teve o desafio de retratar a história mundialmente importante de Neil Armstrong, a primeira pessoa a pisar na Lua em Primeiro Homem. Isto porque, existe uma dificuldade considerável em adaptar cinematograficamente uma biografia.
Além disso, o desfecho da história é conhecido pela maioria, o que dificulta o engajamento dos telespectadores. Desse modo, observamos que a direção de Chazelle e o roteiro de Josh Singer se casaram muito bem.
O Roteiro de Josh Singer, tinha por missão não apensas retratar ao acontecimentos históricos protagonizados por Neil Armstrong, mas , principalmente, reconstruir a personagem e os desdobramentos pessoais e emocionas que os 8 anos de programa Apollo causaram.
O Primeiro Homem mergulha diante disso, abordando os sentimentos não nacionalistas e pessoais. O filme retrata – também – o drama de uma família, cuja vida foi marcada por perdas, privações e com a (quase) presença da morte. Talvez seja aqui que a fotografia de Linus Sandgren se faz tão eficiente. Linus opta por filmar com luz natural, em sua câmera de mão, nos passando a sensação de uma obra documental, além dos planos sempre fechados, nos dando a oportunidade de notar cada detalhe dos rostos dos personagens, pois somente assim poderemos mergulhar em suas dores. O que nos possibilita notar ada detalhe realmente fez a diferença pra que a missão Apollo fosse bem sucedida, na mesma proporção que ela foi morosa e angustiante.
O filme, por outro lado, está longe de ser entediante. Pelo contrário, a parceria entre Chazelle com o compositor Justin Hurwitz e o montador Tom Cross (La La Land e Whiplash), estabelece diante do som e da imagem a sincronia perfeita para que o filme, de fato, funcione. Se no ano passado Dunkirk foi tão forte no design de produção e na edição de som, esse ano em O Primeiro Homem temos o exemplo de como o som pode ser imersivo diante da proposta de um filme.
Inclusive, até o silêncio, em O Primeiro Homem, se faz importante, porque é diante desses detalhes que podemos sentir a sensação claustrofóbica dos ambientes fechados das aeronaves, através da respiração dos astronautas, ou até mesmo quando a trilha é cortada e só ouvimos o vento e a respiração de Neil – reforço aqui, a qualidade IMAX realmente faz a diferença neta obra.
De natureza humana, o roteiro de Josh Singer, nos permite mergulhar na história de Neil. O que é um mérito total do roteirista (e também da edição), nos fazer entender e compreender o lado humano de Neil. E poder, é claro, compreender como ele rompeu todas as barreiras (incluindo a família) para todo um planeta poder presenciar a ida a lua, sem perder sua essência humana. (…Alerta de Spoiler – caso não tenha visto o filme não leia) A cena final, na qual ele joga a pulseira de sua falecida filha na lua, é só um exemplo claro de como aquela dor angustiante durante toda sua vida, podia enfim, se cessar, após outra dor, também encerrada, ao conseguir terminar o seu objetivo. Dando a paz espiritual que tanto ele precisava.
O roteiro também funciona na proporção que evita clichês e a direção, ao compreender que essa vitória é da humanidade. Potencializada pela omissão da bandeira dos EUA fincada na lua, que nunca aparece no filme.
Ryan Gosling (Blade Runner 2049) dá charme ao inexpressivo Neil, afinal de contas: Quem melhor que Gosling para papeis desse tipo, não é mesmo?!. Ah, e pra mim a sensação do filme, a maravilhosa Claire Foy (The Crown), que já tinha provado ao mundo inteiro o seu talento ao interpretar a Rainha Elizabeth na série da Netflix The Crown, aqui ela é a força moral da família, dando a Janet o equilíbrio de uma verdadeira mulher dos anos 60. E espero, que isso a faça merecedora de uma estatueta nas premiações do Oscar. Portanto, sem dúvidas, Chazelle sai de mais um filme com a sensação de que o realismo que ele tenta expressar foi consumado. O Primeiro Homem é um dos melhores filmes desse ano e certamente estará entre os mais listados das premiações do Oscar. Não é à toa o filme foi ovacionado em Veneza.
“Um salto gigantesco para a humanidade” essa frase de Neil, todos nós conhecemos. Mas eu vou mais a fundo, em relação a esse filme. “Chazelle dá um salto gigantesco para o hall dos melhores dessa década”.
Ama o cinema desde que era uma criança quando, ao brincar com seus gibis da Turma da Mônica, os imaginava como se fossem pequenas fitas VHS de uma locadora de vídeo.
Correspondente das Cabines de Imprensa de Recife-PE.