Crítica | O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker) [1953]

Nota do filme:

Entre os anos 1930 e 50, surgiu o cinema noir, onde o gênero policial era adaptado de uma forma que os personagens fossem mais realistas, a história mais crível e encaixada em um contexto político que expunha o auge da vida da população norte-americana nessa época.

Apesar de a indústria cinematográfica ser, infelizmente, dominada por homens, o “noir” era um cinema com protagonismo predominantemente feminino, onde mulheres mudavam a história dos filmes com frequência. Isso acontecia devido as roteiristas, que em sua maioria eram mulheres, a maior delas, ou ao menos a mais conhecida, foi Ida Lupino.

Roteirista de vários filmes, atriz em muitos outros trabalhos, inclusive na televisão, ela foi a primeira mulher a dirigir um filme noir, “O Mundo Odeia-me” de 1953, conta com um elenco todo masculino e uma história que poderia ser real, como a primeira cena deixa bem claro.

Também escrito por Lupino, no filme acompanhamos os homens Roy Collins e Gilbert Bowen, quando estes dão uma carona a Emmett Myers, bandido procurado por uma série de assassinatos, e são sequestrados por este, sendo obrigados a leva-lo a uma cidade próxima ao México.

O filme se desenvolve muito bem nas suas 1h10 de duração, com ritmo gerado por uma montagem com cortes quase imperceptíveis, uma fotografia belíssima, que usa o preto, branco tradicionais do noir para expor a crueldade dos três personagens e com uma história envolvente, graças a um roteiro bem escrito pela diretora.

A montagem está ligada ao roteiro, pois, ao dar mais ou menos o mesmo tempo de tela para os três personagens, não cria nenhum tipo de herói ou vilão e muito menos um protagonista especifico, o público tira suas próprias conclusões em relação a qual deles deve sair vivo daquela situação e interpreta os fatos com base naquilo que Lupino nos dá.

Em relação a fotografia, Lupino usa bem o preto e branco – até o cinza em certos momentos – para expor os personagens e revelar coisas sobre eles que são relevante para a história, como, por exemplo, na cena em que o rosto de Myers aparece pela primeira vez, até então, ele estava escondido nas sombras dentro do carro, para, com um movimento de cabeça do ator, ser mostrado o rosto dele em meio ao cinza criado para expor a seriedade da sequencia de crimes que serão realizados na próxima hora pelo personagem.

Além dos planos que servem para enquadrar os personagens de forma a estarem sempre juntos, assim como Myers os força a estar, usando bem os limites da proporção para mostrar os atores, ao mesmo tempo em que mostra o lugar onde eles estão e todas as suas características, como se a qualquer momento Collins e Bowen pudessem fugir ou ao menos tentar.

Ida Lupino cria um dos melhores filmes noir já feitos, pois consegue manter a tensão o tempo inteiro, usa bem a câmera e a edição para dar ritmo a uma trama que poderia ser real. Justamente por essa dose de realidade e por ter sido dirigido por uma mulher, “O Mundo Odeia-me” funciona tão bem e é importante para a história do cinema.