Crítica | O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel) [2014]

Nota do Filme:

Assistir a um filme do diretor Wes Anderson é uma experiência muito particular. Com seus enquadramentos perfeitos e simétricos (o que é um alívio para alguém que gosta das coisas organizadas e harmônicas como eu), o diretor consegue apresentar de forma clara e concisa exatamente o que quer passar. Com 1h40min de filme e dividido em 3 tempos e 5 atos, O Grande Hotel Budapeste traz uma história sobre amizades, crimes, trapaças e reviravoltas, começando em 1985, com Tom Wilkinson, nosso escritor, contando sobre a época em que escreveu o livro sobre o famigerado Grande Hotel Budapeste.

Para contar a história, ele volta no tempo para o ano de 1965, onde a sua versão jovem, agora interpretada por Jude Law, conversa com o dono do hotel, o Sr. Mustafa (F. Murray Abraham), que lhe conta como lá em 1932 ele começou a trabalhar no hotel como menino de recados. Em seu primeiro dia, Zero Moustafa (Tony Revolori) conhece seu chefe, Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), um homem que cuida de tudo no hotel, desde as escolhas mais banais até as necessidades mais íntimas de algumas hóspedes.  

Logo de cara o conciérge e o menino de recados criam um laço de amizade que perdurará por toda a vida. Ambos amavam aquele hotel como se fossem donos, tratando tudo com o máximo de cuidado e atenção. A rotina no hotel funcionava perfeitamente como um relógio, até que uma de suas hóspedes mais fiéis, Madame Céline Villeneuve Desgoffe-und-Taxis (Tilda Swinton), é encontrada morta em sua casa, desencadeando uma luta ferrenha entre os parentes ainda vivos pela fortuna da matriarca.

As brigas são direcionadas a Gustave quando uma das obras mais valiosas de Madame Céline é deixada em testamento para ele, gerando a revolta no filho mais velho, Dmitri Desgoffe-und-Taxis (Adrien Brody), que faz de tudo para que o conciérge não fique com nem um pedaço da herança de sua mãe. Com a ajuda de seu capanga, J.G. Jopling (Willem Dafoe), ele começa, então, uma caça aos “traidores” da família. Preciso ressaltar a atuação maravilhosa de Willem Dafoe, que está incrível neste papel e me fez sentir arrepios de medo a cada aparição sua na tela.

Os cuidados com o testamento ficam por conta do Deputado Vilmos Kovacs (Jeff Goldblum), que, por se preocupar mais com os interesses da falecida do que com os de seus filhos, acaba sofrendo também as perseguições do personagem de Dafoe. Destaque para o Inspetor Albert Henckels (Edward Norton) e para a confeiteira Agatha (Saoirse Ronan), que garantem o ritmo do filme em diversos atos. O longa conta também com outros nomes de peso, que acabam fazendo pequenas aparições no terceiro ato, como conciérges de outros hotéis que ajudam Gustave, interpretados por Owen Wilson, Bob Balaban, Fisher Stevens, Bill Murray e Waris Ahluwalia.

Com um elenco marcante e recorrente, os filmes do diretor são sempre muito pessoais, visto que costuma adaptar roteiros. A atmosfera presente no set de filmagens é sempre a mesma, de controle, mas também de descontração, e os atores também entram nesse clima para interpretarem seus personagens. Com movimentos laterais de câmera e direção de arte impecáveis, é possível identificar suas obras com facilidade, pela precisão, simetria e qualidade com que tudo é feito, estas que são verdadeiras marcas registradas do diretor.

Um dos maiores pontos de destaque vai, é claro, para a estética do filme: grande parte das cenas grandiosas do longa são, na verdade, maquetes, e não locações. O diretor tem por costume adotar orçamentos mais baixos para seus filmes, o que, segundo ele, estimula a criatividade para encontrar soluções melhores – e mais baratas – para questões complexas, como acontece na cena de perseguição na neve. Em uma parceria de sucesso com o diretor de fotografia Robert D. Yeoman, que vem de quase todos os seus filmes, os dois imprimem a marca excêntrica do diretor quando trabalham juntos. O Grande Hotel Budapeste é um filme lindo, simétrico e divertido, que vale muito a pena ser conferido.