Crítica | O Gigante de Ferro (The Iron Giant) [1999]

Nota do Filme:

O Gigante de Ferro acompanha Hogarth Hughes (Eli Marienthal), filho de Annie Hughes (Jennifer Aniston) que, em determinada noite, é deixado sozinho em casa pela mãe e, ao investigar sons estranhos no lado de fora de seu lar, acaba por descobrir um Gigante de Ferro (Vin Diesel), com o qual rapidamente faz amizade. Concomitantemente, um oficial do governo, de nome Kent Mansley (Christopher McDonald), chega à cidade determinado a encontrar a fonte da anomalia. Desesperado, está disposto a tudo para aniquilar o que considera uma ameaça ao país.

Lançado em 1999, é considerado, hoje, um clássico da animação. Dentre as suas (muitas) conquistas, ressalta-se ser o primeiro filme da área com um personagem de grande importância totalmente gerado por computador. Ainda, é o longa-metragem de estreia de Brad Bird, hoje mais conhecido por obras como Os Incríveis e Ratatouille.

O Gigante de Ferro é uma trama simples, mas que alcança a excelência justamente por compreender os pontos centrais de sua narrativa. Nesse sentido, trata-se de uma história sensível acerca do personagem-título que, em decorrência de um ferimento na sua cabeça, não sabe de onde veio ou por qual motivo foi criado, de modo que busca se identificar como algo diferente de um armamento.

Sua relação com o jovem Hogarth dá forma a essa contínua jornada, ao mesmo tempo em que levanta importantes questões acerca do tema para a audiência. Afinal, podemos alterar nossa natureza? Dessa forma, e se uma arma tivesse alma, e não quisesse ser uma arma? [1] Assim, o roteiro se desenvolve de um modo que compreende a necessidade de afirmação da identidade de seu protagonista.

Há, então, um tom esperançoso no filme. O sentimento que perpassa à audiência é antideterminista, com uma forte crença na liberdade do indivíduo para trilhar o próprio caminho [2], desconsiderando-se quaisquer que sejam as suas predisposições. Uma bela mensagem, necessária, não apenas aos mais jovens.

Destaca-se que Brad Bird dirigiu o longa como um memorial à sua irmã, que morreu pelas mãos do próprio marido [3]. Dessa maneira, há um claro viés desarmamentista na história, motivo pelo qual o período de tempo no qual se passa – década de 50, começo da Guerra Fria e início da forte corrida armamentista entre os Estados Unidos e União Soviética – representa de maneira complementar o seu estado de espírito. Isto porque se trata de um período histórico no qual se chegou perto de uma real destruição do planeta, de modo que há um clima de resignação e, também, aceitação, quanto a possíveis desastres, que permeia a obra.

Nesse sentido, a mentalidade de Kent Mansley, antagonista do longa, representa a paranóia da época. Qualquer avanço tecnológico deveria recair sob as mãos do governo, e, se possível, convertido em algum tipo de armamento. Por menor que seja o seu tempo de tela, a intenção de Brad Bird é cristalina, sendo facilmente perceptível ao espectador.

O motor da narrativa é, contudo, a amizade entre Hogarth e o Gigante de Ferro que, felizmente, é bem encenada. A inocência dos dois personagens permite belas interações, complementadas por uma animação que permanece ótima até mesmo para os padrões atuais. Dean McCoppin (Harry Connick Jr.) funciona bem como suporte, fornecendo a sobriedade necessária para determinadas cenas.

Sendo assim, tem-se que O Gigante de Ferro é uma das grandes animações da história, rapidamente marcando a carreira de Brad Bird como um nome a ser observado. Um conto simples e belo, cuja importante mensagem é perfeitamente captada. Ao mesmo tempo, a sensibilidade do diretor transborda da tela e facilmente contagia aqueles que assistem, o que torna o longa um dos mais memoráveis de 1999.

[1] “What if a gun had a soul and didn’t want to be a gun?” foi a ideia central de Brad acerca da temática do filme

[2] Hogarth Hughes: Matar é ruim. Armas matam. Você não precisa ser uma arma. Você é aquilo que escolhe ser. Você escolhe. Escolha. / Hogarth Hughes: Você é quem você escolhe ser. Gigante de Ferro: Superman.

[3] Em casos de violência doméstica, ligue para o número 180. A Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência é um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial, oferecido pela Secretaria Nacional de Políticas.