Crítica | O Favorito (The Front Runner) [2018]

O Favorito acompanha a ascensão e derrocada de Gary Hart (Hugh Jackman), senador norte americano e principal nome do Partido Democrata para a eleição presidencial de 1988. Inteligente e carismático, era tido como franco favorito na disputa, até que um escândalo extraconjugal, amplamente divulgado pela mídia, desestabilizou a sua campanha.

A polêmica ajudou a impulsionar o modo como se acompanham tais disputas, e Hart vê sua esposa e filha, Lee (Vera Farmiga) e Andrea (Kaitlyn Dever), se transformarem em alvo de repórteres famintos por manchetes sensacionalistas. Sem conseguir se recuperar, o candidato entende por bem abandonar disputa.

O longa é baseado no livro All the Truth Is Out: The Week Politics and Went Tabloid, de Matt Bai, e conta uma história real do senador americano. Desse modo, tem-se que as disputas políticas ganharam um contorno muito mais midiático, com repórteres seguindo políticos de maneira constante, à espera de algum tipo de comportamento inadequado que pudesse gerar comoção pública.

Assim, resta evidente, desde o início da obra, que o diretor Jason Reitman busca transmitir uma mensagem crítica acerca da “tabloidização” da corrida eleitoral. Desse modo, O Favorito seria a sua forma de demonstrar que essa perseguição sensacionalista pela vida íntima de candidatos a cargos políticos é prejudicial à disputa, uma vez que a torna um concurso de popularidade, ao invés de um concurso de ideias.

Ainda, o filme também aborda a problemática envolvendo a mulher envolvida no caso em questão. Leia-se que, a despeito de Gary ser aquele que deve lealdade à esposa, é certo que a figura feminina do escândalo será perpetuamente lembrada de sua participação, com poucas chances de superá-la.

Tem-se, então, uma temática interessante que, contudo, não alcança aquilo que dela se espera. Isto porque há um conflito inerente entre o seu objetivo e  conteúdo, uma vez que o escândalo envolvendo Hart é, de fato, real, e carrega, sim, certa relevância. Afinal, como eloquentemente dito por uma das jornalistas do Washington Post, a posição do senador, como um homem casado, contém determinadas responsabilidades inalienáveis, de modo que transgressões são pertinentes aos eleitores, sobretudo quando o se propõe a ser uma referência de moralidade. Dessa forma, por mais que haja evidente sensacionalismo por parte da mídia, especialmente por se tratarem de aspectos privados, esta não é completamente desprovida de razão.

Destaca-se, todavia, que por mais que haja uma certa incoerência na mensagem em si, a obra consegue manter um ritmo consistente. O roteiro não se limita a transformar o seu protagonista em uma vítima das circunstâncias. Ao contrário, estabelece de maneira clara as suas falhas de caráter por meio da sua intensa agressividade face àqueles que duvidem da sua idoneidade e questionem a sua vida íntima.

Hugh Jackman está confortável no papel, mas não há que se falar em brilhantismo. É uma performance boa, mas apenas isso. O mesmo pode ser dito ao resto do elenco de suporte, cujos nomes mais conhecidos são o da atriz Vera Farmiga e do ator J.K. Simmons. Interpretações que não comprometem o resultado final, mas não chegam a elevá-lo.

Tem-se, então, que O Favorito atinge a média, apenas. A despeito de sua ótima fluidez, de modo que o espectador não se sentirá fatigado após a sessão, bem como de sua interessante temática acerca de um tenso período da história norte-americana, o longa jamais se sobressai devido, muito devido à problemas intrínsecos ao conto. Ainda, a ausência de qualquer atuação memorável estagna a qualidade do filme, tornando-a pouco individualizada.

Filme visto durante o 20º Festival do Rio, em novembro de 2018