Crítica | O Amor Dá Trabalho (2019)

“Filme de espírito é tão ridículo.”

Elisângela (Flávia Alessandra)

Nota do Filme:

A comédia nacional, de modo geral, é mal vista pelos críticos brasileiros especializados em cinema. No entanto, muitas agradam ao grande público. Infelizmente, O Amor Dá Trabalho não deve fugir à regra, com piadas prontas e personagens estereotipados, é apenas mais do mesmo da comédia brasileira. A trama acompanha Anselmo (Leandro Hassum), um funcionário preguiçoso e egoísta, que, após sua morte, fica preso no limbo. Para garantir um lugar no céu, ele precisa praticar uma boa ação e atender a um pedido feito por alguém na terra.

O filme inicia com uma divertida e bem produzida animação apresentando a ida de Anselmo ao trabalho e revelando sua personalidade egoísta e sem o mínimo de solidariedade com as pessoas. Ao chegar ao prédio, após furar a fila do elevador, a animação dá lugar ao live action. A essa altura a noção de antipatia, preguiça e falta de empatia do protagonista já está formada, mas o longa não perde a oportunidade de reforçar essa ideia. Até que chega a sua morte, quando ele vai ao limbo e encontra uma espécie de “anjo do purgatório”, que o manda a uma biblioteca dos pedidos das pessoas, para que ele escolha um para realizar e se livrar de ir para o inferno.

Ele escolhe bancar o cupido, com a missão de unir um homem (Bruno Garcia) e uma mulher (Flávia Alessandra), ex-noivos, com personalidades bem diferentes. Como cupido, ele tenta de todas as maneiras fazer o casal se acertar e, obviamente, rende cenas atrapalhadas e engraçadas nessa jornada, mas é de se estranhar que a mulher abandonada em pleno altar encontre o homem que a abandonou doze anos depois e nem ao menos pergunte o que aconteceu e, ainda, se interesse em sair novamente com o sujeito sem exigir explicação sobre o que houve e onde ele estava por todo esse tempo. Apesar de ser uma comédia, isso não é justificativa para um enredo tão inverossímil. A aproximação do casal soa artificial, o enredo é forçado na tentativa de ser engraçado.

A obra não poupa nos estereótipos, da loira bonita e burra, da mocinha boa e ingênua, do amigo apaixonado, só para citar alguns. Também não economiza nas piadas prontas e atuais, com memes, política e a modificação das palavras pelo corretor do celular, por exemplo. Contudo, os deuses (Hélio De La Peña, Falcão, Maria Clara Gueiros, Sérgio Loroza, Bruno Sutter, Dani Calabresa, entre outros) estão bem caracterizados e são apresentados de forma inteligente, pensando na diversidade religiosa e rendendo bons momentos ao filme. A trilha sonora se encaixa no roteiro e serve para dar ênfase aos momentos cômicos.

Leandro Hassum convence como protagonista póstumo (lembra Fábio Porchat na forma mais afetada, com gesticulações e uso exagerado dos braços), Tadeu Mello faz o papel de um guia espiritual que diverte o espectador, mas entrega uma performance já vista pelo público. Flávia Alessandra atua bem na pele da mocinha, uma mulher ingênua, antenada com o meio ambiente e que ainda é apaixonada pelo homem que a abandonou há doze anos no altar, que, por sua vez, está representado por Bruno Garcia (Paulo Sérgio), que também atua bem, como o canastrão da história.

Com roteiro forçado, piadas prontas, momentos previsíveis e personagens caricatos, o longa deixa a desejar. Todavia, trata-se de uma comédia leve, que cumpre sua proposta e deve agradar aos fãs da comédia nacional que têm risada fácil e não se importam com os clichês e as cafonices do gênero. O filme foi feito para estes e, por isso, não podem deixar de ver. Destaque-se que devem ficar até o final para não perderem os hilários “erros de gravação” e a cena pós-crédito.

O Amor Dá Trabalho estreia em 29 de agosto nos cinemas (possui cena pós-crédito).

Direção: Alê McHaddo | Roteiro: Alê McHaddo, Felipe Mazzoni | Ano: 2019 | Duração: 100 minutos | Elenco: Leandro Hassum, Flávia Alessandra, Bruno Garcia, Felipe Torres, Monique Alfradique, Tadeu Mello, Rogério Morgado, Nanda Lisboa, André Mattos, Hélio De La Peña, Falcão, Maria Clara Gueiros, Sérgio Loroza, Bruno Sutter, Dani Calabresa, Paulinho Serra, Ludmilla, Marcello Airoldi, Murilo Couto, Marco Zenni.