Crítica | Mudo (Mute) [2018]

Parece que a Netflix  entrou de vez na onda da ficção científica. Depois de lançar a série Altered Carbon e o filme The Cloverfield Paradox, a nova aposta caiu nas mãos do diretor Duncan Jones (Lunar e Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos), filho do cantor David Bowie. Contudo, apesar de um elenco com grandes nomes e da direção que já trabalhou em um grande blockbuster, o longa Mudo não entrega o que promete, e torna-se apenas mais um produto em queima de estoque no catálogo do serviço de streaming.

Estrelado pelo ator Alexander Skarsgård (vencedor do Globo de Ouro pela série Big Little Lies), o recém-lançado título se passa na cidade de Berlim, no ano de 2056, quando o bartender Joe inicia uma busca por Naadirah (Seyneb Saleh), sua namorada desaparecida. Durante a jornada, ele precisará enfrentar cafetões do submundo da capital alemã.

Apesar da premissa simples, o roteiro peca em se estender mais do que necessário, criando um filme arrastado com mais de duas horas de duração, acumulando cenas que não acrescentam nada na trama. Em alguns momentos, a estória parece andar em círculos. O protagonista, inclusive, precisa interrogar alguns personagens mais de uma vez, apenas para enrolar a chegada do terceiro ato. Já o antagonista Cactus, interpretado por Paul Rudd (o Homem-Formiga da Marvel), é inserido em um segundo núcleo, cansativo, que frequentemente quebra o ritmo do núcleo principal. Há, portanto, duas linhas narrativas, que pouco conversam entre si. Além disso, o script também opta por criar um quarto ato, sem qualquer tipo de necessidade.

Outro grande problema da obra é o design de produção, tanto a qualidade quanto o objetivo. Mudo possui efeitos visuais preguiçosos, trazendo uma segunda linha de luzes de neon típicas de um ambiente cyberpunk. Entretanto, o estilo se limita a alguns cenários externos e genéricos de Berlim, que poderiam muito bem pertencer a qualquer outra metrópole do mundo, sem o expectador notar diferença na geografia. Diversas cenas em locais fechados parecem estar desconexas, pois pecam pela ausência de tecnologias – seja em figurino, objetos ou construções. A fotografia também não segue um padrão. Se em dado momento se esforça em criar atmosferas coloridas ou com predominância do azul, logo em seguida deixa de se manifestar sob qualquer forma. Fica a sensação de que o filme ocorre simultaneamente em duas épocas diferentes.

Além da ambientação desequilibrada, o ano da trama não tem importância nenhuma. A estória poderia muito bem se passar em 2018, sem sofrer qualquer tipo de perda de significado. É um longa futurístico que não fala sobre o futuro. Os elementos fantasiosos e distópicos são apenas meros objetos para um filme sobre um desaparecimento. Não há qualquer discussão além dos dilemas que já compõem o nosso presente.

O único destaque do novo trabalho de Duncan Jones está nas atuações. Skarsgård e Rudd  conseguem se virar dentro das limitações. O primeiro, que incarna um protagonista mudo, imprime os sentimentos através da linguagem corporal (na forma de andar, no olhar e na posição do corpo). Já o segundo, consegue construir um vilão repugnante e explosivo, sem perder a postura de um pai que faz de tudo para proteger a filha.

Com muitos mais erros que acertos, Mudo é um filme que tenta ser cyberpunk, mas passa longe. A Netflix deveria esquecer um pouco a ficção científica e focar em gêneros que demandam de um orçamento menor. Talvez tenha mais sucesso.