Crítica | Moonfall: Ameaça Lunar (Moonfall) [2022]

Nota do Filme:

Roland Emmerich é um grande mestre em imaginar catástrofes capazes de abalar a vida na Terra. Depois de ter ameaçado a humanidade com alienígenas em Independence Day (1996), mudanças climáticas extremas em O Dia Depois de Amanhã (2004) e o aquecimento do núcleo do planeta em 2012 (2009), o diretor alemão (porém especialista na arte do blockbuster americano) volta aos cinemas com mais um ambicioso projeto, Moonfall: Ameaça Lunar, que estreia nesta quinta-feira (03) nos cinemas.

Apesar do motivo do caos agora ser outro, a fórmula de Emmerich continua a mesma, o que sempre é uma polêmica quando o assunto é qualidade. Mas, se por um lado ele corre o risco de comprometer a reação do público a um filme cujas batidas todos já conhecem, por outro o diretor acaba criando um gênero próprio, uma assinatura exagerada e chamativa que já foi capaz de torná-lo um dos diretores mais rentáveis do cinema americano.

Moonfall acompanha uma dupla de astronautas em uma missão para salvar o planeta de uma iminente colisão com a lua. Mas isso não é tudo. O desvio de órbita foi causado por uma ameaça espacial desconhecida que não parece agir aleatoriamente. Em meio ao caos que essa proximidade pode provocar na vida da Terra, Brian (Patrick Wilson) e Jo (Halle Berry) voltam a unir forças para entender o que exatamente está se passando na lua e impedir o fim do planeta.

Cena de Moonfall.

Assim como qualquer outro filme de Emmerich, se for encarar Moonfall é preciso que seja com cabeça aberta e boa vontade. Bastante boa vontade. São muitas histórias individuais e muitas ideais extravagantes num roteiro que quer entreter, mas também mostrar que sabe o que está fazendo. Talvez um dos maiores problemas em filmes como este é que seu desejo de ser levado a sério pouco combina com as cenas grandiosas e o entretenimento que ele quer trazer para o espectador. Contudo, é possível encontrar exemplos de equilíbrio entre conteúdo e entretenimento dentro da filmografia de Emmerich, mas Moonfall não é um deles.

As duas horas de duração desse grande épico de ficção científica são preenchidas de forma bastante irregular e fica na cara a falta que faz um bom trabalho de edição. A primeira hora é dedicada a desenvolver os conflitos pessoais de cada personagem e dar contexto para a grande viagem espacial que acontece logo em seguida, mas são tantas informações picotadas na tela que fica difícil acompanhar o raciocínio do filme. Não existem pausas, o diretor não dá tempo para que o espectador processe o caos que se espalha pelo planeta. Ao contrário do que acontece em O Dia Depois de Amanhã, por exemplo, mar e terremotos destroem cidades inteiras e o espectador mal se abala porque, em seguida, mais e mais informações são jogadas na tela sem qualquer cuidado.

Se, por um lado, Moonfall se esforça em vão tentando conectar o público com conflitos familiares bastante rasos, por outro ele consegue entregar momentos que exploram efeitos especiais perfeitos para se ver na telona. Quem curte esse tipo de cena de ação com certeza vai se esbaldar, mas para evitar frustrações, é melhor desligar o cérebro antes de qualquer outra coisa. Isso porque, na ânsia de entregar muito no visual, ele se perde na própria premissa. Além de ter diversos furos e facilitações narrativas, o roteiro erra feio ao fugir dos conceitos da física que ele mesmo fez questão de levar a sério e não tem pano que dê para encobrir tanto absurdo.

Cena de Moonfall.

Com personagens tão genéricos, fica difícil para os atores fazerem alguma coisa com o pouco que o roteiro os entrega. Enquanto Halle Berry e Patrick Wilson penam para conseguir trazer uma dose de humanidade a personagens apenas operantes, John Bradley se torna repetitivo como o único alívio cômico da história e Donald Sutherland é absolutamente subaproveitado ao entrar em apenas uma cena, dar a fala mais genérica possível e depois sumir sem deixar rastros.

Desperdiça-se talento, oportunidade e o que poderia ser um bom filme. Segundo o próprio Emmerich, Moonfall é uma história sobre a origem da raça humana, mas o diretor se prende tanto a sua fórmula já consagrada do filme-catástrofe que desvia a atenção do real tema do longa. Ao exagerar na dose de imagens grandiosas da destruição do nosso planeta, acaba se esquecendo que Moonfall: Ameaça Lunar é sobre origem, e não extermínio. O resultado é um trabalho bagunçado, cansativo e genérico, muito distante em qualidade de outros nomes de sua filmografia. Dessa vez, Emmerich acaba se perdendo no personagem, ou melhor, no gênero.