Crítica | Memória da Dor (La Douleur) [2017]

Nota do Filme:

A França possui uma tradição cinematográfica fortíssima ao produzir diversos longas de alta qualidade no decorrer de cada ano, se tornando sempre um possível concorrente ao Oscar. Contudo, em um ano que a corrida possuía nomes fortes para disputar a vaga, coube ao diretor Emmanuel Finkiel e seu longa representarem o país, e o resultado não é satisfatório.

Adaptado de um livro semi-biográfico da lendária Marguerite Duras, o filme conta um pedaço da vida intima da autora em uma Paris ocupada pelos nazistas, simultaneamente quando o marido dela acaba por ser preso e ela se envolve com o inimigo por conta da situação imposta. 

Entretanto, mesmo por se tratar do texto de Duras, o diretor acaba realizando uma péssima adaptação da obra da autora, se utilizando de monólogos introspectivos e descrições excessivas sobre tudo em grandes quantidades de voice-over, sendo utilizado de forma descomedida esse recurso, banalizando a narração e a deixando arrastada, como se o espectador estivesse assistindo o livro sendo contado em tela.

Além disso, o diretor não consegue transmitir os sentimentos da protagonista e nem o contexto da guerra para o público, quase nunca descolando a câmera da personagem principal, sempre seguindo-a para todos os cantos, porém sem revelar, esconder ou deixar implícito qualquer coisa, deixando a condução da narrativa lenta, o que faz com que o filme não tenha fôlego para aguentar os seus longos 127 minutos.

Em relação ao núcleo de personagens, a única que consegue ser lembrada ao término do filme é a protagonista, interpretada por Mélanie Thierry, que não consegue chegar ao ápice de suas emoções em nenhum momento, não tendo expressões faciais contundentes que demonstrem os seus sentimentos para com aquela situação, além do seu desenvolvimento ser esquecível. O resto do elenco, também tratado de forma negligente pelo roteiro, acaba se tornando irrelevante ao final do longa.

Ademais, o resultado final do longa se torna mais confuso ainda por conta da edição que não consegue deixar a historia fluída ao optar por deixar a historia parecer ser contada por um flashback, não conseguindo intercalar os fatos de forma contextualizada na narrativa, parecendo uma grande bagunça de informações.

Contudo, a direção de arte e o figurino conseguem se sobressair nessa anarquia pois imergem o espectador na França de 1944, aliada a fotografia lúgubre que se esforça para deixar transparecer o horror vivido naquele momento, porém sem grande destaque.

Portanto, o longa acaba perdendo o charme cinematográfico francês por conta de sua pouca qualidade, sendo a sua chance de concorrer ao Oscar risível, se tornando esquecível a partir do momento em que os créditos sobem, não agregando muita coisa, apenas o que não se deve fazer com um filme.