Crítica | Me Sinto Bem com Você (2021)

“E você continua sendo a minha pessoa favorita pra conversar…no mundo”

Adriana

Nota do filme:

Me Sinto Bem com Você conta cinco histórias de amor com diferentes fundos e origens, todas iniciadas próximas ao começo da pandemia da COVID-19. Dentre elas, um casal de ex-namorados que se reconecta por força do distanciamento; um casal que lida com o desgaste da convivência forçada; um casal recém-apaixonado que tenta não deixar a relação esfriar com o distanciamento; um relacionamento estritamente físico que deve lidar com a ausência de toques; e duas irmãs que tentam se reconectar em um momento tão atípico.

A sinopse do filme, de pronto, já levanta interessantes questões iniciais sobre o modo como a narrativa será apresentada ao espectador. Afinal, se acompanhamos cinco histórias distintas e antológicas, por que utilizar o formato de longa-metragem para tal? Uma coleção de curta-metragens ou, talvez, uma minissérie – seguindo o estilo de Modern Love, especialmente considerando as semelhanças das temáticas – parece, ao menos a princípio, mais apropriada à história. Isto é, talvez o maior problema da película seja, justamente, a discrepância de qualidade e atração que cada núcleo carrega, o que poderia ser mitigado com essa alteração.

Nesse sentido, aponta-se, sem spoiler, a trama das duas irmãs, cuja presença faz apenas parecer que houve uma tentativa ativa de não se tratar apenas de núcleos românticos. Ocorre que, exatamente por ser o único sem essa característica, parece desconexo do restante. Ressalta-se, porém, que isso não o torna o elo mais fraco da narrativa – esse lugar é “ocupado” por Fernando e Dora e seu casamento às beiras de um colapso por conta da convivência forçada –, pelo contrário, uma vez que é um dos mais interessantes.

De toda forma, ultrapassado esse elemento, o filme funciona de maneira sólida, em especial no seu núcleo mais forte, o casal de ex-namorados, interpretados pelo diretor Matheus Souza e Manu Gavassi – ambos assinam o roteiro. Em que pese a possível antipatia que alguns possam sentir pela participação da atriz na edição recente do Big Brother Brasil – acompanhada, é claro, da adoração que outras pessoas possam vir a sentir pelo mesmo fato –, com a exceção de pequenos trejeitos, entrega uma sólida performance.

Há um quê de metalinguagem no núcleo não apenas por se tratarem dos rostos mais conhecidos do elenco – Matheus Souza e Manu Gavassi – mas, também, por ambos terem se conhecido na faculdade de Cinema. Não se trata de algo muito sutil, especialmente ao final quando a mãe de Tom – Priscilla Rozembaum –, em um íntimo diálogo por vídeo, lhe conta em que tipo de personagem de seus filmes ela o vê.

No mais, destaca-se o uso da linguagem visual na retratação da comunicação à longa distância, em especial a representação de textos em tela – ainda que não inovador, é bem competente – e a videochamada acima mencionada, sinais de que o diretor tem uma clara visão do seu roteiro. Por fim, mas não menos importante, é necessário lembrar que a atuação no longa é sólida. Thati Lopes, Victor Lamoglia, Clarissa Müller, Gabz – que também assina o roteiro –, Amanda Benevides, Richard Abelha, Thuany Parente e Isabella Moreira convencem em seus respectivos núcleos.

Nesse sentido, apesar da aparente desconexão anteriormente mencionada no núcleo das irmãs, certo é que, funciona de maneira tocante, especialmente considerando o modo como trabalha a expectativa de viver à altura de um legado deixado por algum dos genitores. Focamos, também, na estranha relação de Eduardo e Helena, sem rótulos e com foco apenas físico, que devem aprender a lidar com a ausência do toque – com um poderoso monólogo de Helena.

Portanto, Me Sinto Bem com Você é um bom exemplo da filmografia brasileira em tempos de pandemia. Matheus Souza entrega uma obra competente, capaz de “dialogar” com diversas pessoas, eis que conta com cinco núcleos distintos. Em que pese o formato escolhido – o qual pode ter decorrido de diversos fatores extra-campo, inclusive a predileção natural por longa-metragens a outros formatos midiáticos –, certo é que o espectador saíra, ao menos, satisfeito.