Crítica | Matrix Resurrections (2021)

Nota do Filme:

A trilogia de Matrix fez muito sucesso no início dos anos 2000, tornando Keanu Reeves uma lenda para a cultura pop. Como é de praxe em Hollywood a extensão de franquias de sucesso, chega aos cinemas o quarto capítulo, cuja história é continuação direta de Matrix Revolutions, último longa da saga até então. A obra reúne Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss nos papéis icônicos que tornaram famosos, Neo e Trinity. A química entre os dois continua a mesma, o romance que tem início no primeiro filme permanece vivo na pele dos atores.

O primeiro longa apresenta a ‘Matrix’, algo que sequer pode ser explicado, mas deve ser visto para ser entendido. E aos poucos, Neo – e o público – vão conseguindo distinguir o que é real e o que não passa de ilusão em um mundo virtual. O espectador comprou essa ideia e entendeu fácil as motivações dos personagens para se livrarem do domínio das máquinas. As duas sequências (Reloaded e Revolutions) passam tempo demais na guerra contra as máquinas, mas têm ótimas cenas de lutas e de perseguições para não entediar o público.

Matrix Resurrections parte daí, segue 20 anos após os acontecimentos do terceiro filme da saga. Neo usa sua identidade original, Thomas Anderson, e parece não lembrar de nada do seu passado de luta pela libertação das pessoas aprisionadas mentalmente pelas máquinas. E é com essa premissa que ele precisa ser resgatado e optar por seguir o coelho branco mais uma vez.

Apesar de contar com a nostalgia, Matrix Resurrections despreza a maior parte do elenco dos anteriores e arrisca uma continuação de uma franquia consagrada com personagens novos e atores pouco conhecidos, o que diminui a chance de sucesso. Todavia, o problema de Matrix 4 está longe de ser apenas a falta de identidade do público com o elenco.

O roteiro é confuso, forçado e não tem a plausibilidade e inventividade dos antecessores. A narrativa é apressada e não desenvolve bem nem os personagens, nem suas motivações. Além de subutilizar o ótimo Yahya Abdul-Mateen II, que vive Morpheus e promete uma grande participação, mas se perde no decorrer da trama. Os vilões também têm potencial, mas acabam parecendo mais bobos e caricatos do que ameaçadores.

Em Matrix (1999) temos a busca de Morpheus (Lawrence Fishburne) pelo ‘Escolhido’ e lutar ao lado deste, protegê-lo e crer em seu poder contra as máquinas fazia todo o sentido. Foi fácil convencer o espectador e fazê-lo acreditar na Matrix. Já esse quarto filme é artificial e difícil de comprar, ele se apoia na paixão dos fãs e usa de imagens da trilogia como apelo nostálgico, mas que não funciona. Algumas perguntas são feitas e ficam, despudoradamente, sem resposta. Os personagens dizem, simplesmente, não saber responder sobre questões essenciais e fica por isso mesmo.

O destaque de Matrix Resurrections é a metalinguagem com deboche, é a forma de galhofar das costumeiras sequências de franquias de sucesso e das interpretações da própria história, como uma autocrítica criativa. Esse é o diferencial, uma ideia divertida ao ironizar a indústria de cinema, até mesmo com a escalação dos atores para voltarem a interpretar os antigos papéis e ainda citam a Warner Bros no momento. É uma pegada interessante, que mostra que a obra não se leva a sério, mas não é o suficiente para salvar a produção.

Ocorre que o Matrix 3 oferece uma conclusão satisfatória, um desfecho merecido e à altura do universo construído, com uma complexidade de fácil compreensão. Todavia, Matrix 4 traz uma narrativa apressada, com um roteiro frágil, deixando escancarado que só foi produzido para pegar carona no sucesso da saga. Pode até ter sido feito com o coração, para prestigiar os fãs e dar um pouco mais da história de Neo e Trinity, mas faltou nexo, motivação, desenvolvimento de personagens. É lógico que ver os dois juntos novamente, com a ótima química que possuem, dentro de toda a estrutura e atmosfera de Matrix mexe com os sentimentos dos fãs e reaviva a vontade de rever toda a obra, no entanto, é difícil ver uma sequência arruinando algo consagrado.

As sequências de lutas e cenas de ação não decepcionam e resgatam a atmosfera da série cinematográfica, mas resta a dúvida da necessidade desse quarto filme, tendo em vista que a trilogia concluiu a trama de forma a não deixar brechas, com um enredo amarrado e eficaz ao passo que este novo não acrescentou nada inventivo, tampouco fez sentido a continuação. A sensação é que a produção veio para arruinar uma franquia fechada, redonda e eficaz, problematizando uma história consolidada apenas para entrar na onda das continuações sem fim de Hollywood e tornando a ideia singular do universo Matrix em uma reciclagem “barata”‘.

Matrix Resurrections estreia em 22 de dezembro somente nos cinemas. Possui cena pós-crédito.

Direção: Lana Wachowski | Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell, Aleksandar Hemon | Ano: 2021 | Duração: 148 minutos | Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff, Jessica Henwick, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett Smith, Priyanka Chopra Jonas, Christina Ricci, Lambert Wilson, Andrew Lewis Caldwell, Toby Onwumere, Max Riemelt.