Nota do Filme:
A trilogia de Matrix fez muito sucesso no início dos anos 2000, tornando Keanu Reeves uma lenda para a cultura pop. Como é de praxe em Hollywood a extensão de franquias de sucesso, chega aos cinemas o quarto capítulo, cuja história é continuação direta de Matrix Revolutions, último longa da saga até então. A obra reúne Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss nos papéis icônicos que tornaram famosos, Neo e Trinity. A química entre os dois continua a mesma, o romance que tem início no primeiro filme permanece vivo na pele dos atores.
O primeiro longa apresenta a ‘Matrix’, algo que sequer pode ser explicado, mas deve ser visto para ser entendido. E aos poucos, Neo – e o público – vão conseguindo distinguir o que é real e o que não passa de ilusão em um mundo virtual. O espectador comprou essa ideia e entendeu fácil as motivações dos personagens para se livrarem do domínio das máquinas. As duas sequências (Reloaded e Revolutions) passam tempo demais na guerra contra as máquinas, mas têm ótimas cenas de lutas e de perseguições para não entediar o público.
Matrix Resurrections parte daí, segue 20 anos após os acontecimentos do terceiro filme da saga. Neo usa sua identidade original, Thomas Anderson, e parece não lembrar de nada do seu passado de luta pela libertação das pessoas aprisionadas mentalmente pelas máquinas. E é com essa premissa que ele precisa ser resgatado e optar por seguir o coelho branco mais uma vez.
Apesar de contar com a nostalgia, Matrix Resurrections despreza a maior parte do elenco dos anteriores e arrisca uma continuação de uma franquia consagrada com personagens novos e atores pouco conhecidos, o que diminui a chance de sucesso. Todavia, o problema de Matrix 4 está longe de ser apenas a falta de identidade do público com o elenco.
O roteiro é confuso, forçado e não tem a plausibilidade e inventividade dos antecessores. A narrativa é apressada e não desenvolve bem nem os personagens, nem suas motivações. Além de subutilizar o ótimo Yahya Abdul-Mateen II, que vive Morpheus e promete uma grande participação, mas se perde no decorrer da trama. Os vilões também têm potencial, mas acabam parecendo mais bobos e caricatos do que ameaçadores.
Em Matrix (1999) temos a busca de Morpheus (Lawrence Fishburne) pelo ‘Escolhido’ e lutar ao lado deste, protegê-lo e crer em seu poder contra as máquinas fazia todo o sentido. Foi fácil convencer o espectador e fazê-lo acreditar na Matrix. Já esse quarto filme é artificial e difícil de comprar, ele se apoia na paixão dos fãs e usa de imagens da trilogia como apelo nostálgico, mas que não funciona. Algumas perguntas são feitas e ficam, despudoradamente, sem resposta. Os personagens dizem, simplesmente, não saber responder sobre questões essenciais e fica por isso mesmo.
O destaque de Matrix Resurrections é a metalinguagem com deboche, é a forma de galhofar das costumeiras sequências de franquias de sucesso e das interpretações da própria história, como uma autocrítica criativa. Esse é o diferencial, uma ideia divertida ao ironizar a indústria de cinema, até mesmo com a escalação dos atores para voltarem a interpretar os antigos papéis e ainda citam a Warner Bros no momento. É uma pegada interessante, que mostra que a obra não se leva a sério, mas não é o suficiente para salvar a produção.
Ocorre que o Matrix 3 oferece uma conclusão satisfatória, um desfecho merecido e à altura do universo construído, com uma complexidade de fácil compreensão. Todavia, Matrix 4 traz uma narrativa apressada, com um roteiro frágil, deixando escancarado que só foi produzido para pegar carona no sucesso da saga. Pode até ter sido feito com o coração, para prestigiar os fãs e dar um pouco mais da história de Neo e Trinity, mas faltou nexo, motivação, desenvolvimento de personagens. É lógico que ver os dois juntos novamente, com a ótima química que possuem, dentro de toda a estrutura e atmosfera de Matrix mexe com os sentimentos dos fãs e reaviva a vontade de rever toda a obra, no entanto, é difícil ver uma sequência arruinando algo consagrado.
As sequências de lutas e cenas de ação não decepcionam e resgatam a atmosfera da série cinematográfica, mas resta a dúvida da necessidade desse quarto filme, tendo em vista que a trilogia concluiu a trama de forma a não deixar brechas, com um enredo amarrado e eficaz ao passo que este novo não acrescentou nada inventivo, tampouco fez sentido a continuação. A sensação é que a produção veio para arruinar uma franquia fechada, redonda e eficaz, problematizando uma história consolidada apenas para entrar na onda das continuações sem fim de Hollywood e tornando a ideia singular do universo Matrix em uma reciclagem “barata”‘.
Matrix Resurrections estreia em 22 de dezembro somente nos cinemas. Possui cena pós-crédito.
Direção: Lana Wachowski | Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell, Aleksandar Hemon | Ano: 2021 | Duração: 148 minutos | Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff, Jessica Henwick, Neil Patrick Harris, Jada Pinkett Smith, Priyanka Chopra Jonas, Christina Ricci, Lambert Wilson, Andrew Lewis Caldwell, Toby Onwumere, Max Riemelt.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).