Crítica | Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo (Mamma Mia! Here We Go Again) [2018]

10 anos após o sucesso do primeiro filme, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo chegou com a promessa de ser o melhor musical de 2018. Não é para menos, visto o elegante elenco que compõe o longa e a escolha das canções, do grupo sueco ABBA. Na prática, mesmo repetindo a fórmula de seu antecessor e pecando em alguns aspectos técnicos e narrativos, a nova estória tem saldo positivo por conta das letras tocantes, da leveza do roteiro e da direção de arte bem construída.

Através de duas linhas narrativas, que ocorrem em épocas diferentes, acompanhamos a chegada da jovem Donna (Lily James) na paradisíaca ilha grega que conduz a trama, ao passo em que vemos a filha Sophie (Amanda Seyfried) preparando a festa de inauguração do hotel construído pela mãe.

O avanço e o cruzamento das duas estórias é o primeiro ponto positivo da obra. A forma como o tempo oscila entre o passado e o presente flui organicamente, através de transições sutis. Quando somos apresentados aos novos personagens, logo sabemos de quem se trata, graças à montagem que consegue explicar sem necessidade de linhas de texto.

O segundo pilar que sustenta a magia por trás do longa é a direção de arte, que conecta personagens e cenários através de tons de azul, refletindo as águas cristalinas da Grécia. Um dos melhores exemplos é a cena em que Sophie e Sky (Dominic Cooper) cantam em tela dividida, mostrando que as cores do apartamento do namorado resistem ao cinza de Novo Iorque — o que reforça o amor entre os dois.

No quesito atuação, a belíssima Lily James encanta qualquer um. A atriz, que já havia aquecido corações em “Em Ritmo de Fuga”, imprimi uma Donna sensual e desvairada, personalidade que já é construída por Meryl Streep no primeiro filme.  Os três atores jovens que interpretam os pais no passado,  embora limitados, se esforçam e conseguem resgatar a essência do famoso trio. Ademais, os personagens já presentes no trabalho anterior continuam mantendo a média, mesmo que alguns tenham pouco tempo em tela.

Quanto às canções, já sabíamos o que esperar. Elas não decepcionam. Em alguns momentos somos tão contagiados que balançamos as pernas, em outros ficamos imersivos nos desapontamentos. Nesses dois sentidos, destaques para “Dancing Queen” e “I Wonder”, respectivamente. Além disso, a maioria das letras serve como complemento narrativo, agregando novas informações ao contexto da cena, como a faixa “Fernando”.

Por fim, o roteiro, embora raso, consegue cumprir com seu principal objetivo: passar otimismo e nos fazer esquecer problemas pessoais durante a sessão. Em seus 116 minutos de duração, somos transportados para as belezas da inocência, do amor e do próprio cenário (embora estragado em alguns instantes por efeitos artificiais nítidos). Tantos os momentos de tensão emocional quanto os de alívio cômico carregam energia em suas mensagens, mesmo que de maneira quase despercebida.

No entanto, nem só de rosas se faz o filme, a começar pela quase ausência de Meryl Streep, tão prometida na divulgação da sequência. Ao todo, ela não aparece mais que 10 minutos, o que pode desanimar os fãs da atriz. 

O segundo ponto que reduz o brilho da obra é a simplicidade de algumas coreografias. Desta vez dirigido pelo discreto cineasta “Ol Parker”, que não possui nenhum trabalho notável no currículo, o filme peca por cenas de dança modestas, que não conseguem acompanhar o nível das músicas. Assim, as sequências musicais encantam muito mais pela trilha do que pelos planos. Fora isso, o diretor repete movimentos específicos de câmera em canções diferentes — como o travelling frontal em que objetos vão sendo retirados do plano conforme a lente avança —, aparentando não ter um repertório técnico suficiente para conduzir um musical.

Apesar de não ser um exemplo perfeito do gênero, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo consegue honrar o legado do primeiro filme. Mesmo com um roteiro pouco aprofundado e algumas escolhas técnicas ruins, os fãs devem gostar do presente. Quem não é fã, ao menos consegue fugir um pouco da realidade e sonhar mais. E isso é muito reconfortante.