Crítica | Josep (2020)

Nota do filme:

O longa animado Josep conta a vida do artista catalão Josep Bartolí, mais especificamente o período em que este passou em um campo de concentração francês para refugiados da Guerra Civil Espanhola. A narrativa é contada em flashbacks a partir das memórias de um guarda (fictício) que desenvolve um forte laço com o protagonista.

O grande feito do diretor (e ilustrador) Aurel é criar uma história que mescla com muita qualidade a beleza (visual e sentimental) e os horrores do cenário. Algo que remete ao Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro – o que não deixa ser curioso, já que o ator Sergi López, que deu vida ao repugnante Vidal no longa de 2003, aqui empresta sua voz a Bartolí. Desse modo, os setenta e um minutos equilibram com muito talento um conto sensível e tocante, sem abrir mão de retratar com crueza vários instantes pesados, incluindo abusos (físicos e psicológicos) e atitudes desesperadoras para lidar com a fome.

Também é inteligente a inserção de elementos que traduzem a maneira como o guarda narra suas lembranças, em passagens que se misturam e se atravessam (como na primeira aparição de Frida Khalo). Considerando que o personagem se encontra idoso e com problemas de saúde, nada faz mais sentido. Já artisticamente falando, o projeto é impecável, com mudanças de traços que se adequam ao contexto retratado e com transições eficientes que mantêm a produção em um ritmo adequado.

Constantemente belo sem ignorar a melancolia inerente à situação de seu protagonista, e apresentando a violência sem recorrer a imagens gráficas (pois um campo de concentração já é algo asqueroso por si só), Aurel compõe um registro que respeita e honra a trajetória de Batolí, cuja vida não poderia ter sido contada de forma melhor do que através de desenhos. Uma bonita homenagem que merece ser conferida.