Crítica | Joias Brutas (Uncut Gems) [2019]

Nota do Filme:

A geração da nova Hollywood dos anos 70, composta principalmente por Scorsese, Coppola, Spielberg, Lucas e de Palma, trouxe um novo frescor ao cinema norte-americano, bastante influenciado pela Nouvelle Vague francesa, na qual produziu obras definitivas da sétima arte, como Taxi Driver (1976) ou O Poderoso Chefão (1972), preparando assim uma nova safra de diretores e/ou cinéfilos.

“Nova York, primavera de 2012. Howard Ratner (Adam Sandler) é o dono de uma loja de joias, que está repleto de dívidas. Sua grande chance em quitar a situação é através da venda de uma pedra não lapidada enviada diretamente da Etiópia, cheia de minerais preciosos. Inicialmente Howard a oferece ao astro da NBA Kevin Garnett, um de seus clientes assíduos, mas depois resolve que conseguirá faturar mais caso ela vá a leilão. Para tanto, precisa driblar seus cobradores e a própria confusão que cria a partir de suas constantes mudanças.”

Josh e Benny Safdie alcançaram o reconhecimento com o último filme realizado por eles, Bom Comportamento (2017), na qual conferiram um estilo próprio na direção dos irmãos, e Joias Brutas é a evolução dessa assinatura, sendo evidente a influência do movimento citado anteriormente, tanto que Martin Scorsese é um dos produtores executivos do longa. Essa influência é visível no roteiro, na direção e na fotografia.

Com isso, o script, que também é assinado pelos irmãos Safdie e por Ronald Bronstein, colaboradores de longa data, é eletrizante e profundo, pois avança às relações que cercam o protagonista sem colocar o desenvolvimento dos outros em detrimento ao dele, além de estabelecer diversos pontos de conflitos, seja com caso extraconjugal, cobrança de dívidas de aposta ou qualquer espécie de movimentação de dinheiro, isso avança a narrativa de forma natural criando a curiosidade na audiência.

No mais, a direção rege o ritmo da narrativa, aliada da edição, pois, além de se movimentar bastante, busca centralizar sempre o personagem na cena, bebendo na fonte dos grandes diretores do período, como o próprio Scorsese, com a câmera buscando a ação ao redor inúmeras vezes, indo de um lado para o outro, mas parando quando necessário.

Ainda, a fotografia aplica as cores de forma interessante, aliada do neon que compõe a cena, pois destaca contrastes no cenário além da aplicação da cor já escolhida. Além disso, é necessário destacar o uso do roxo para criar uma atmosfera mística, que é complementada pela trilha sonora.

Com isso, deve-se ressaltar também o trabalho do som. A trilha, conforme dito anteriormente, utiliza muitos sintetizadores, sons distorcidos, a fim de criar esse clima sobrenatural. Mas o destaque está na mixagem e na edição de som, que, aliado a todos os outros elementos, ressoa por conta do alto volume, o que aumenta o impacto do frenesi da direção, montagem e da atuação de Sandler, tanto que o tom de voz do protagonista e dos personagens ao seu redor sempre são mais altos e, majoritariamente, todos os barulhos emitidos pelos objetos sendo utilizados são mais estridentes que o normal.

Desse modo, a montagem possui um papel fundamental no ritmo da narrativa, pois ela tem a tarefa de passar ansiedade e apreensão do protagonista por conta do seu vício em apostas, transformando o ritmo em algo eletrizante sem se tornar uma bagunça, além de ditar a velocidade com que os eventos ocorrem e transmitir isso para o público.

Entretanto, a síntese de todos esses elementos se dá na atuação de Adam Sandler, que, sem dúvidas, é a melhor de sua carreira. Ele é enérgico, furioso, irado, ansioso, explosivo, mas se contém quando é com a sua família, o que demonstra a sua versatilidade, apesar do seu primeiro lado se sobrepor ao outro. Além disso, por se tratar de um alguém endividado tentando quitar seus débitos, sempre tenta manipular tudo e a todos para que a situação seja a seu favor, mas falha, e isso é um dos pontos que movem a trama, sem contar que por ser um apostador compulsivo, ele não se importa com nenhuma das consequências de suas atitudes.

Portanto, Joias Brutas é um longa que vale a pena de ser assistido pela fantástica performance de Sandler, além de ser um filme que não é produzido mais com tanta frequência, se tornando uma pérola em meio ao reduto hollywoodiano que está com a criatividade escassa e com discursos moralistas mais pungentes.