Nota do Filme:
O título do filme (traduzido literalmente) traz a ideia de pertencimento, tema cada vez mais comum neste mundo de redes sociais fáceis, em que tudo o que é bom e glamouroso é postado, visualizado e curtido, gerando uma conexão entre as pessoas. Dificilmente são publicados momentos tristes, dolorosos ou corriqueiros, mesmo que, na verdade, sejam comuns na vida de – quase – todo mundo. É a sensação de fazer parte de um grupo, essa conexão, que dá origem ao pertencimento.
A postagem do cotidiano de uma vida “normal”, que consiste em acordar, trabalhar, voltar para casa, realizar os afazeres domésticos e dormir para recomeçar no outro dia não “rende like”, não acarreta conexão, não alcança o “pertencimento”. É nessa vibe de não pertencimento que a protagonista se encontra no início do longa, olhando as estrelas, como que buscando respostas para as suas indagações, bebendo, sozinha, enquanto ouve risadas ao fundo. Na sequência, a personagem passa despercebida pelas outras pessoas, que nunca lhe dão a preferência. Até um encontro casual num bar, que poderia gerar alguma conexão, não leva a nada.
Essa é a história de Ruth (Melanie Lynskey), uma auxiliar de enfermagem, solitária e reflexiva, sem filhos, companheiros, nem um trabalho instigante que preencha seus dias. Conta apenas com uma amiga para desabafar e buscar respostas às questões sobre a vida, o universo e tudo mais, como se quisesse descobrir o sentido da sua própria.
Quando ocorre um assalto em sua casa começam, também, as mudanças na sua vida. Ao chegar em casa, encontra suas coisas reviradas e percebe a falta de um conjunto de talheres, que fora de sua avó, medicamentos e um notebook. A polícia foi chamada, mas apenas anotaram os dados, para fins meramente burocráticos e em nenhum momento demonstraram interesse ou vontade na causa. Ruth percebe, então, que para reaver seus bens terá que agir por conta própria. E é aí que sai da inércia da vidinha comum e sua personagem passa por uma evolução, que vai sendo mostrada em pequenas medidas.
O vizinho Tony (Elijah Wood), um sujeito esquisito, destemido e religioso, torna-se seu parceiro nessa busca por “justiça pelas próprias mãos”. Eles formam um improvável casal com uma sintonia à la Dom Quixote e Sancho Pança e, mesmo sem uma típica cena de beijo, é fácil torcer pelos dois. Lynskey transforma-se aos poucos e a direção de Macon Blair é clara na vontade de mostrar essas pequenas mudanças de comportamento, que farão diferença no final do filme. Já Wood é um tipo estranho, que vai revelando um pouco da sua personalidade à medida que se entrosa no mundo da Ruth, para quem está sempre disponível.
Com algumas cenas beirando o bizarro, adquire um tom de mistério que confere mais “recheio” à trama. A história ganha maiores proporções no seu desenrolar, com direito a perseguições, humor negro e alguns momentos trash. Como é típico do gênero, conta com fatos convenientes para facilitar o encontro entre os personagens, mas nada também impossível de acontecer na vida real. Tem uma pegada no estilo de 7 Psicopatas e Um Shi Tzu e Dois Caras Legais. É uma mistura de comédia com humor negro e policial. Uma obra inusitada, com ótimas atuações e uma bela trilha sonora.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).