Crítica | Harriet (2019)

Nota do Filme:

O comovente longa conta a história real de Harriet Tubman (Cynthia Erivo), ativista política que ajudou centenas de escravos a fugirem do sul dos Estados Unidos, logo depois que ela conseguiu escapar da escravidão, no ano de 1849. Suas ações contribuíram fortemente para que a história tomasse um novo direcionamento. Trata-se de um filme biográfico de drama, dirigido por Kasi Lemmons, que escreveu o roteiro com Gregory Allen Howard.

A escravidão é um tema amplamente abordado pelo cinema, com obras chocantes que lembram o quanto cruel pode ser o ser humano, que reduziu todo um povo à mera mercadoria. No entanto, a trama de Harriet emociona mais pelo fato de ser baseada em fatos do que pela forma como a história é contada. Não consegue fugir de clichês, com discursos apaixonados e relatos comoventes, além de contar com conveniências narrativas e usar da comoção para atingir o espectador, segue uma fórmula sem ousar.

Logo no início, a protagonista tem a oportunidade de mostrar sua capacidade de liderança e determinação, quando ajuda o primeiro grupo a se libertar. Ignorando as recomendações do amigo William Still (Leslie Odom Jr.) – presidente do Comitê de Vigilância da Sociedade Anti-Escravidão da Pensilvânia – que diz que o resgate de escravos requer habilidade e planejamento cuidadoso, ela dá início a primeira tentativa de libertação.

No decorrer do longa são apresentadas visões de Harriet de eventos do passado e possivelmente do futuro e ela conta que depois de sofrer um ferimento na cabeça passou a ter essas visões que acredita serem mensagens de Deus. Ocorre que o filme se apoia demais nesse fato, servindo tais imagens como guia para o êxito das fugas, o que distrai o espectador e tira o foco da narrativa. Além disso, há cenas repetitivas, ideias já mostradas antes se reiteram, demonstrando, no mínimo, falta de criatividade do roteiro. A passagem final entre Gideon Brodess (Joe Alwyn) e a personagem principal soa caricata e pouco crível.

O figurino e os cenários retratam bem a época e a fotografia é eficaz e bem demarcada, mas essa não parece uma obra capaz de surpreender o público. As músicas contribuem para o andamento da narrativa, sendo algumas executadas de maneira bela e representativa por Erivo. As atuações estão conforme a exigência do drama, mas não há destaques, exceto pela protagonista, que se impõe com firmeza e segurança no difícil papel, sendo a responsável por elevar o filme, conferindo energia à película.

O roteiro conta com discursos comoventes e cenas de ousadia e coragem daquela que foi uma figura crucial, sendo uma das poucas mulheres a liderar uma expedição armada durante a Guerra Civil Americana. Contudo, segue uma fórmula, sem inovar muito no modo de contar uma história perversa da humanidade, mas já conhecida por todos. Vale pela importância temática e histórica, pois saber sobre a vida de uma escrava que se tornou uma abolicionista militante e conduziu centenas de pessoas rumo à liberdade é enriquecedor.

Harriet tem estreia prevista para 06 de fevereiro de 2020 nos cinemas brasileiros.

Direção: Kasi Lemmons | Roteiro: Kasi Lemmons, Gregory Allen Howard | Ano: 2019 | Duração: 125 minutos | Elenco: Cynthia Erivo, Leslie Odom Jr., Clarke Peters, Jennifer Nettles, Janelle Monae, Joe Alwyn, Vanessa Bell Calloway, Zackary Momoh.