Crítica | Espírito Jovem (Teen Spirit) [2018]

Nota do filme:

Durante os momentos iniciais de Espírito Jovem, pelo menos três cenas simbolizam a paixão que a protagonista sente pela música: enquanto a moça canta em um bar, a câmera praticamente a emoldura no centro de um coração luminoso localizado atrás dela; com música ao fundo, um clássico cavalo branco é acariciado pela menina, que em vez de sonhar com um príncipe encantado, deseja se tornar uma cantora de sucesso, e, por fim, o uso constante de fones de ouvido deixa claro o universo no qual ela se inseriu plenamente. É uma introdução mais do que adequada para o que virá nos cerca de noventa minutos seguintes.

Na trama, Violet (Elle Fanning) é uma colegial habitante da Ilha de Wight que divide seu tempo livre trabalhando como garçonete e cantando no pub local. Quando o show de talentos que dá nome ao filme chega à cidade para a realização de uma fase classificatória, a garota vislumbra a perspectiva de perseguir seus sonhos, alcançar o estrelato e se distanciar da mãe atenciosa, porém controladora (Agnieszka Grochowska). Contando com a ajuda de Vlad (Zlato Buric) ex-cantor de ópera que vive na decadência, a jovem se inscreve na competição e, a cada etapa realizada, precisa lidar com as novidades do tumultuado mundo da fama.

Esse resumo indica que a história em si não é muito original, pois já a vimos inúmeras vezes em outras ocasiões, e de fato o roteiro escrito pelo diretor estreante Max Minghella (ator em A Rede Social e O Conto da Aia) não ignora algumas convenções já batidas, como o mentor que auxilia a heroína; a projeção de uma relação pai/filha; a pessoa que sai chorando de uma sala de audição enquanto a protagonista espera a sua vez; os jurados que permanecem na escuridão e alguns diálogos que há muito já se tornaram clichês (“Cante com o coração”).

Já a direção é um pouco mais ousada, mesmo que oscile aqui e ali. É curioso notar como tanto Fanning quanto Buric trabalharam com Nicolas Winding Refn (Em Demônio de Neon e na trilogia Pusher, respectivamente), pois Minghella parece ter se inspirado na estética presente nas produções do dinamarquês, especialmente a utilização de luzes de neon e sons de sintetizadores. Esses recursos, no entanto, embora atraentes no começo, são usados excessivamente, o que acaba deixando as sequências cansativas. O ritmo do longa também é problemático: os acontecimentos do primeiro ato ocorrem muito rapidamente, fazendo com que o segundo fique um pouco arrastado. Por fim, o clímax da narrativa não carrega o peso esperado para o momento. Fica a sensação de que com um diretor mais experiente o desfecho possuiria uma carga dramática mais forte. Não obstante, será interessante observar a evolução de Minghella em seus próximos filmes.

O destaque reside nas coreografias muito bem executadas – apesar de a insistência na estética de videoclipe ser repetitiva – e na performance vocal de Fanning. Normalmente se saindo melhor em papeis mais contemplativos e com menos expressividade (O Estranho que Nós Amamos), a atriz alcança um ótimo desempenho quando está em cima do palco. Além de cantar muito bem, consegue projetar os diferentes sentimentos vividos por Violet ao longo de sua saga.

Espírito Jovem é, portanto, um retrato que mistura a obsessão pela música com o fascínio pelo sucesso, resultando em um conto de fadas atualizado para a era das redes sociais. Embora não atinja seu completo potencial, oferece sólidas apresentações e é visualmente agradável. Não seria ruim ver a trajetória de Violet em novos capítulos, dessa vez conduzidos por realizadores com um pouco mais de bagagem.