Crítica | Dolittle [2020]

Nota do filme:

Existem diferentes formas de se fazer um bom filme. Os grandes diretores usam sua criatividade e irreverência para testar diferentes usos de câmera e novas maneiras de contar histórias. Nesses casos, o espectador se maravilha com a originalidade, o frescor do cinema. ‘Dolittle’ não se encaixa nesse exemplo. É um filme que em nenhum momento tenta escapar de sua fórmula e segue todos os clichês das narrativas de aventura — cidades exóticas, vilões nefastos e rasos, correria. E faz tudo isso de maneira agradável. 

Logo nos primeiros minutos, uma abertura em animação encanta ao apresentar o pano de fundo da história. Mas não espere por nada fora do comum. O ponto de partida de ‘Dolittle’ é idêntico ao de dezenas de outros filmes: um homem amargurado que decidiu se trancar em sua casa após a morte de sua esposa. A única diferença, aqui, é que este homem vive e fala com os animais. A sensação é de estar assistindo a um filme da Disney, com direito a narração estilo “conto de fadas”.

A história começa a engatar quando o Doutor Dolittle, interpretado pelo ótimo Robert Downey Jr., é chamado para tratar a doença da rainha da Inglaterra, que só pode ser curada por meio de um fruto fantástico. A partir daí, ele parte numa jornada para uma ilha mágica acompanhado de animais falantes e um garoto intruso chamado Stubbins. 

É difícil saber se ‘Dolittle’ quer ser ‘Piratas do Caribe’, ‘A Menina e o Porquinho’ ou ‘Aladdin’. Em cada ato de seu roteiro há um pouquinho de cada um. Estão presentes as batalhas em alto mar, os momentos fofos e as invasões a castelos. E nada mais do que isso. Seria irritante se o filme parecesse uma cópia barata. Entretanto, seus clichês proporcionam vários momentos engraçados ao longo dos 101 minutos de projeção. E quantos clichês. O diretor Stephen Gaghan não arriscou alteração alguma na Jornada do Herói. O resultado é um filme previsível, mas que entretém. 

O CGI dos animais não chega a convencer, mas não atrapalha a experiência. Os bichos, aliás, são o ponto alto do filme. Sem um enredo forte, a obra deixa quase toda a diversão a cargo dos animais falantes, que proporcionam ótimos momentos. Destaque para o esquilo Kevin, que diverte em todas as poucas vezes em que aparece. 

Robert Downey Jr. faz muito bem as caras e bocas que seu personagem requer. Para um filme quase infantil, aliás, ‘Dolittle’ chega a ter um elenco de peso: Antonio Banderas, Jessie Buckley, Jim Broadbent. Todos desperdiçados, porém. Uma pena, já que o filme poderia entreter melhor os adultos se tivesse conferido papéis mais complexos a atores tão talentosos. O que se tem são rostos conhecidos — e premiados — interpretando personagens que, honestamente, qualquer um poderia fazer. 

‘Dolittle’ é uma questão de expectativa. Para quem vai ao cinema esperando leveza e comédia, ele é ótimo. De qualquer modo, o triunfo de um filme é entregar o que ele propôs. Aqui, o proposto é aquele tipo de entretenimento que faz esquecer os problemas e sair do cinema com um sorrisinho no rosto. Funciona, e bem. Se os espectadores saem maravilhados com a originalidade em alguns filmes, aqui, eles se maravilham com os cenários mágicos, as cores vibrantes, a doçura dos animais feitos em computador. Por que não? Não é um filme de se levar na memória, mas vale a pena ver tanto no cinema, quanto novamente no futuro, na Sessão da Tarde. 

Estreia em 20 de fevereiro. Direção: Stephen Gaghan. Produção: Susan Downey, Joe Roth, Jeff Kirschenbaum. Roteiro: Stephen Gaghan, Dan Gregor, Doug Mand. Elenco: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen, Jim Broadbent, Jessie Buckley, Harry Collett, Emma Thompson, Rami Malek, John Cena, Kumail Nanjiani.